Reproduzo abaixo, com pouquíssimas alterações, um comentário que postei no blog de um amigo:
Já que o assunto é metrô, aqui vai um desabafo de alguém em vias de
ser discriminado. De cara peço desculpas, pois serei um pouco prolixo.
Fortaleza não tinha metrô. Tecnicamente ainda não tem, pois nenhuma
obra foi entregue. Tudo o que tínhamos (temos) são duas linhas de trens
urbanos/metropolitanos. Ambas saem do centro da cidade, da histórica
Estação Central João Felipe, sendo que uma segue na direção Sul, até os
municípios vizinhos de Maracanaú e Pacatuba, e a outra segue na direção
Oeste, até o município de Caucaia.
Desnecessário dizer que as localidades citadas são
cidades-dormitório, e que diversos conjuntos habitacionais foram
construídos ao longo das linhas. E que a maioria do percurso até elas passa
pelos bairros da classe media-baixa e pela periferia mais pobre.
Apesar de o tema “metrô” povoar o imaginário da cidade sabe-se lá
desde quando, foi apenas no primeiro governo Tasso Jereissati (1986) que
algo real começou tratado, mas de uma maneira pra lá de equivocada e
ultravagarosa. Equivocada porque se aferrou (em sua quase totalidade) ao
trajeto do trens já existentes, ignorando as mudanças que a cidade-área
metropolitana vem passando. Ultravagarosa porque… Precisa explicar?
Estamos em 2011 e NADA ainda funcionou…
Pois bem, depois que foi anunciado que a cidade seria uma das sedes
da Copa 2014, acrescentou-se ao projeto uma linha de VLT (Veículo Leve
sobre Trilhos), ligando o Porto do Mucuripe até o bairro Parangaba, de
novo aproveitando uma linha de trens já existente (é nessa parte, do
VLT, que estão havendo os maiores problemas com desapropriações, mas
isso é outro assunto…).
As obras que vem sendo executadas até agora são exclusivamente na
linha Sul. Previsão de entrega: só Deus sabe… O governo diz que os
testes começam no final deste ano, mas não dá pra confiar.
Quando eu citei que o projeto é equivocado, uma das razões é que ele
ignorava solenemente as áreas Leste e Sudoeste da cidade,
coincidentemente onde mora a “elite” e onde o tráfego de
automóveis chega a dimensão de “inferno”. Sempre se falou que uma linha
deveria ser construída para atender essas áreas, mas o fato de
necessitar ser totalmente subterrânea e em terreno que não favorece levaria o custo a valores
astronômicos.
Bem, cerca de um ano atrás, saindo do nada, veio o anúncio do Governo
do Estado de que essa linha Leste seria construída, e que os recursos, vários bilhões de reais,
já estariam garantidos (a licitação inicial foi desencadeada uns 60 dias
atrás).
Beleza. O problema é que as notícias relativas as obras da Linha
Oeste desapareceram quase completamente do noticiário, e quando
ressurgiram falavam de uma simples troca dos veículos e quase nada além.
Curioso com sou, cerca de umas 3 semanas atrás liguei para a
companhia que gerencia todo o processo, a METROFOR. Pedi para falar com a
área de comunicações e expus minhas dúvidas. Meio constrangido, meio
resignado, um funcionário confirmou minhas piores suspeitas.
Simplesmente, o governo jogou o projeto da linha Oeste para as calendas,
e vai realizar apenas um serviço apenas cosmético, exceto pelos trens, que
serão similares aos do VLT. Com isso vai centrar esforços na linha
Leste, a dos bairros “cartão-postal”. Só após isso a linha Oeste seria realmente modernizada. Minha previsãode entrega: lá pela Copa de... 2026.
Enquanto isso, o povão que se f…
Pra terminar: este indignado que vos escreve precisa dizer em que parte da cidade mora?
2 comentários:
O soteropolitano quando ouve falar em metrô leva logo a mão à carteira, para protegê-la.
O projeto, iniciado em 1999, previa a partir de uma estação de ônibus no centro da cidade (que seria também do metrô), um ramal que chegaria ao aeroporto, outro que levaria aos bairros periféricos na saída da cidade pela BR 324 e um terceiro de integração com os ônibus num ponto de partida para os bairros do subúrbio ferroviário e outras localidades no entorno da Baia de Todos os Santos.
Já seria alguma coisa, mas os projetos foram adiados, encurtados e esquecidos, apesar do ralo/buraco negro que sugava e ainda suga recursos que já chegam à casa do bilhão de reais.
Hoje, início de 2012, doze anos depois, a parte que sai do centro da cidade, um pouquinho subterrânea e o resto de superfície, estancou a meio caminho da saída da cidade e a menos disso da rota para o aeroporto.
O monstrengo de concreto, que passa bem em frente de onde eu moro (a minha primeira visão ao ir para o trabalho), tem 6 quilômetros, nunca recebeu outra composição que não kombis e veículos próprios da construção civil e nunca prestou serviço a ninguém, rico, pobre, branco, preto, sabido ou besta (como já dizia um conselheiro sentimental do rádio baiano antigo).
PS 1 - Pra variar, o trecho que levaria aos bairros do subúrbio ferroviário foi adiado, encurtado e esquecido.
PS 2 - E como também somos sede na Copa de 2014, já foi anunciado também um VLT rota aeroporto. Este, com o dobro do que já foi feito, sairia em um sexto do tempo gasto até agora.
O nosso, digamos, metrô mexe com a criatividade do soteropolitano. Há pouco, uma agência de publicidade colocou num busdoor: "As boas idéias são como as obras do metrõ: duram para sempre".
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