12 de julho de 2010

Depois da festa, a realidade

No post anterior falamos da efervescência política na Catalunha, e da enorme manifestação em Barcelona na véspera da final da Copa do Mundo.

Com a Espanha campeã, as opiniões se dividiram. Alguns analistas crêem que o título poderá ajudar a "unificar" o país, mesmo com as flagrantes diferenças culturais e históricas entre suas regiões. Outros acreditam que especialmente entre os catalães, maioria na seleção campeã, as exigências por maior autonomia, chegando mesmo até a independência, vão aumentar.

Estou entre os que acreditam que a unidade do estado espanhol será bastante testada no futuro próximo.

E uma imagem é bem sintomática:


Puyol e Xavi, expoentes da seleção espanhola, comemoram o título, ainda no gramado, carregando a Taça FIFA e a bandeira... da Catalunha.

10 de julho de 2010

A Espanha em uma encruzilhada

A Copa do Mundo termina amanhã, com Espanha e Holanda fazendo o jogo final.

Mas o assunto aqui não será o futebol, apesar deste não ser totalmente alheio ao tema.

Em meados da semana que passou o Tribunal Constitucional espanhol (o equivalente ao nosso STF) divulgou o teor completo de uma sentença que responde a questionamentos feitos pelo conservador Partido Popular sobre a constitucionalidade de grande parte das cláusulas do Estatuto de Autonomia da Catalunha, aprovado em referendo no ano de 2006.

Na sentença, a corte declara inconstitucionais diversos itens do Estatuto e reinterpreta vários outros. Os mais significativos, politicamente falando, são a negação da existência jurídica de uma "nação catalã" (inclusive com a declaração de inexistência de "direitos históricos" que fundamentem o governo autônomo catalão), a restrição ao uso preferencial da língua catalã e a restrição da autonomia do judiciário regional.

Um resumo do documento já era conhecido desde Junho, e provocou imensa reação na Catalunha. Tanto que praticamente todas as organizações políticas, culturais e esportivas se uniram para convocar uma manifestação neste sábado em Barcelona que reuniu algumas centenas de milhares de pessoas (o número exato é controverso, mas certamente foi a maior manifestação nacionalista catalã desde o fim do franquismo).

O tom na manifestação deveria ser apenas de repúdio a decisão do Tribunal, e em defesa do Estatuto. Porém o que se viu foi um grande apoio às posições no rumo da independência total da região. A extensão exata desse apoio se verá nas eleições regionais que acontecerão em breve, quando os partidos independentistas tentarão assumir o controle do Governo Autônomo.

Mesmo espanhóis de outras regiões temem a extensão das consequencias da decisão judicial, e que ela possa inviabilizar o Estado Espanhol baseado em comunidades autônomas.

Em resumo, na véspera daquilo que pode ser uma celebração da Espanha moderna, democrática e multicultural, a unidade do país passou a ser ameaçada de uma forma inesperada e séria.

As próximas semanas serão bem agitadas na península...