18 de outubro de 2012

Escolhendo não escolher

Os franceses possuem um interessante ditado sobre eleições: "No primeiro turno, você vota com a mão no coração; no segundo turno, com a mão no bolso". Óbvio que a metáfora se adequa muito melhor a realidade política francesa (e, em maior ou menor grau, as realidades européias ocidentais...) do que a nossa ainda mal consolidada estrutura política. Mas, enfim, dá para reconhecer sua validade entre nós.

Quando o candidato em que votamos no primeiro turno não conseguiu avançar para o segundo, o nosso movimento natural é procurar um candidato minimamente decente e que mais se aproxime de nossas convicções políticas. Claro que muitas vezes essa proximidade é apenas tênue, mas, em comparação com alternativa, as eventuais dúvidas ficam minimizadas. Voltando aos franceses, o exemplo clássico foi a esquerda votando maciçamente no conservador Jacques Chirac para derrotar o facista Le Pen. No Brasil, o exemplo mais claro que lembro é o apoio dos tucanos paulistas à Marta Suplicy contra Maluf.

Entretanto, e de uma maneira mais frequente do que gostaríamos, ficamos no segundo turno com duas alternativas que em quase nada nos entusiasmam (para usar uma expressão suave...). Ou ambos são ideologicamente controversos, ou são administrativamente temerários, ou são pessoalmente discutíveis. Ou ainda, e infelizmente, uma mistura potencializada de tudo isso.

Nesse momento aparece a opção de não votar em nenhum deles, escolhendo o voto nulo ou em branco (tanto faz, o efeito é o mesmo...). Alguns podem ver nisso a chance de mandar um "recado", ou mesmo a tentativa (na realidade inexistente...) de melar a eleição. Mas a maioria que toma esse caminho simplesmente não se sente representada por nenhum dos candidatos e não quer ser obrigada a fazer uma "Escolha de Sofia".

Eis que começaram a circular na rede diversas iniciativas atacando esse tipo de opção e, com um verniz "participativo", tentando forçar a escolha por um dos candidatos, como se isso fosse uma obrigação.

Primeiro, obrigatório no Brasil é o voto (e isso também rende uma bela discussão...), e não a escolha. Essa é totalmente pessoal, não subordinada a argumentações pseudamente democráticas onde é negado ao cidadão o direito de não decidir, se assim o desejar.

Na realidade, esse tipo de campanha tenta transformar o eleitorado que no primeiro turno não votou em nenhum dos dois concorrentes do segundo turno em uma verdadeira boiada, habitante de um "curral eleitoral" onde os candidatos remanescentes simplesmente aguardam tranquilamente um endosso às suas posições.

Na boa, pra cima de mim, NÃO.

13 de abril de 2012

100 anos de emoção

Nesse 14 de abril de 2012 uma instituição (na melhor acepção do termo) completa 100 anos.

Nada menos que o SANTOS FUTEBOL CLUBE, o alvinegro da Baixada Santista, o lugar que repetidamente prova que um raio pode realmente cair mais de uma vez no mesmo lugar .

Tenho um orgulho enorme de que essa instituição seja dona de metade da minha paixão futebolística (a outra metade é esta aqui), paixão essa forjada a ferro e fogo nos tempos áridos da Sampa do início dos anos 90.

Já escrevi várias vezes neste irregularíssimo blog sobre essa paixão, mas este texto aqui, o qual apenas transcrevi e adaptei, é o meu preferido. Preferi não atualizá-lo para este centenário com medo de cometer injustas omissões, tantos são os craques que estão em sua história.

Aliás, fico pensando em como seria se alguns supercraques que não envergaram aquela camisa branca tivessem a chance de defender o time da Vila Belmiro. É uma pena pensar que Rivelino, Tostão, Ademir da Guia, Didi, Mané Garrincha,Nilton Santos, Zico (para ficar só entre os brasileiros...) não puderam abrilhantar ainda mais seus já invejáveis currículos. Eles mereciam. Nós também.

 Melhor não me estender. Eu seria repetitivo.

Parabéns, Santos.

Os genuínos amantes do futebol agradecem por você existir.



24 de janeiro de 2012

Trem para lugar nenhum

Reproduzo abaixo, com pouquíssimas alterações, um comentário que postei no blog de um amigo:


Já que o assunto é metrô, aqui vai um desabafo de alguém em vias de ser discriminado. De cara peço desculpas, pois serei um pouco prolixo.

Fortaleza não tinha metrô. Tecnicamente ainda não tem, pois nenhuma obra foi entregue. Tudo o que tínhamos (temos) são duas linhas de trens urbanos/metropolitanos. Ambas saem do centro da cidade, da histórica Estação Central João Felipe, sendo que uma segue na direção Sul, até os municípios vizinhos de Maracanaú e Pacatuba, e a outra segue na direção Oeste, até o município de Caucaia.

Desnecessário dizer que as localidades citadas são cidades-dormitório, e que diversos conjuntos habitacionais foram construídos ao longo das linhas. E que a maioria do percurso até elas passa pelos bairros da classe media-baixa e pela periferia mais pobre.

Apesar de o tema “metrô” povoar o imaginário da cidade sabe-se lá desde quando, foi apenas no primeiro governo Tasso Jereissati (1986) que algo real começou tratado, mas de uma maneira pra lá de equivocada e ultravagarosa. Equivocada porque se aferrou (em sua quase totalidade) ao trajeto do trens já existentes, ignorando as mudanças que a cidade-área metropolitana vem passando. Ultravagarosa porque… Precisa explicar? Estamos em 2011 e NADA ainda funcionou…

Pois bem, depois que foi anunciado que a cidade seria uma das sedes da Copa 2014, acrescentou-se ao projeto uma linha de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), ligando o Porto do Mucuripe até o bairro Parangaba, de novo aproveitando uma linha de trens já existente (é nessa parte, do VLT, que estão havendo os maiores problemas com desapropriações, mas isso é outro assunto…).

As obras que vem sendo executadas até agora são exclusivamente na linha Sul. Previsão de entrega: só Deus sabe… O governo diz que os testes começam no final deste ano, mas não dá pra confiar.

Quando eu citei que o projeto é equivocado, uma das razões é que ele ignorava solenemente as áreas Leste e Sudoeste da cidade, coincidentemente onde mora a “elite” e onde o tráfego de automóveis chega a dimensão de “inferno”. Sempre se falou que uma linha deveria ser construída para atender essas áreas, mas o fato de necessitar ser totalmente subterrânea e em terreno que não favorece levaria o custo a valores astronômicos.

Bem, cerca de um ano atrás, saindo do nada, veio o anúncio do Governo do Estado de que essa linha Leste seria construída, e que os recursos, vários bilhões de reais, já estariam garantidos (a licitação inicial foi desencadeada uns 60 dias atrás).

Beleza. O problema é que as notícias relativas as obras da Linha Oeste desapareceram quase completamente do noticiário, e quando ressurgiram falavam de uma simples troca dos veículos e quase nada além.

Curioso com sou, cerca de umas 3 semanas atrás liguei para a companhia que gerencia todo o processo, a METROFOR. Pedi para falar com a área de comunicações e expus minhas dúvidas. Meio constrangido, meio resignado, um funcionário confirmou minhas piores suspeitas. Simplesmente, o governo jogou o projeto da linha Oeste para as calendas, e vai realizar apenas um serviço apenas cosmético, exceto pelos trens, que serão similares aos do VLT. Com isso vai centrar esforços na linha Leste, a dos bairros “cartão-postal”. Só após isso a linha Oeste seria realmente modernizada. Minha previsãode entrega: lá pela Copa de... 2026.

Enquanto isso, o povão que se f…

Pra terminar: este indignado que vos escreve precisa dizer em que parte da cidade mora?

23 de janeiro de 2012

Fazendo falta, cada vez mais


Um dos meus maiores orgulhos foi poder encontrá-lo pessoalmente, mesmo de forma pra lá de rápida. E a lembrança nítida de seu aperto de mão não se apagou de minha memória, mesmo depois de mais de 30 anos. (Engraçado: antes dele, pude conhecer alguns de seus maiores amigos e colaboradores, muitos deles personagens memoráveis por si só. Ele ficou quase para o fim da fila, e de meu tempo de militância...).

Ontem, 22 de janeiro, ele completaria, se ainda vivo fosse, 90 anos.

Mesmo as discordâncias que tive (e tenho) quanto a alguns dos posicionamentos políticos que ele tomou não obscureceram a minha enorme admiração.

E vendo o tipo de país que estamos nos tornando, fico com a certeza: cada dia que passa, ele faz mais falta...

Ele, o "Engenheiro".

Leonel de Moura Brizola.