30 de dezembro de 2010

Sinal de vida

Ei! Ói nóis aqui outra vez...

Por enquanto só de passagem, para marcar o final de 2010 e avisar que este semi-abandonado boteco não fechou definitivamente.

Esse ano que termina foi tudo, menos monótono. Tanto no campo pessoal (aí inclusa a parte profissional), quanto no que se refere a esse nosso mundinho quase sem jeito, as coisas foram bem movimentadas. Nem sempre o movimento foi no melhor dos rumos, mas paciência...

E aqui faço uma mea-culpa. Apesar de várias e boas justificativas para a falta de atualizações, não precisava ter largado o De Olho tão ao deus dará... Por isso, fica o aviso (ou seria a ameaça?) ao estilo Douglas MacArthur: NÓS VOLTAREMOS !!!


Um excelente 2011 para todos nós !!!

28 de setembro de 2010

Declaração de voto

Estão chegando as eleições, felizmente e, ao mesmo tempo, infelizmente.

Felizmente porque chega ao fim o famigerado Horário Eleitoral Gratuito (que nada tem de gratuito, diga-se de passagem...), que pouco ou nada acrescenta à formação política de ninguém.

E infelizmente porque termina o melhor programa humorístico da televisão brasileira, o Horário Eleitoral Gratuito.

Não, eu não estou me contradizendo de forma alguma. O quase interminável desfile de candidatos carrega simultâneamente essas duas caracteristicas, e enquanto o processo político-eleitoral brasileiro não sofrer uma reforma profunda isso continuará acontecendo. Mas isso é papo pra outra hora... Quem sabe muito em breve...

A intenção deste post é fazer a minha declaração de voto, sempre que possível com as devidas explicações.

Começo pela Presidência da República, e reconheço que essa foi uma escolha menos complicada do que parecia no início do processo, no meio do ano passado. Na época, temi que as restrições que fazia (e faço) aos horrorosos desdobramentos da política de alianças do governo Lula, somada a uma certa implicância pessoal que tinha com a candidata Dilma Roussef, me fizessem procurar uma opção. Pesei um voto em Marina, conjecturei um voto em Plínio (algo mais recente), admiti até o voto em branco. Entretanto, tudo relacionado à lamentável (sob todos os ângulos que se tente observar) campanha de José Serra me fez raciocinar que ainda não é hora de baixar a guarda. Voto em Dilma Roussef. Além de uma história de vida admirável (temos em comum uma passagem pelo PDT), ela é a garantia de que as políticas sociais do governo Lula não serão abortadas. Por enquanto, isso me basta. Outras cobranças deixarei para depois.

Para Governador do Ceará, admito que me sinto completamente órfão de candidatos minimamente viáveis e palatáveis. Dos três principais (Cid Gomes, do PSB e aliados; Lúcio Alcântara, do PR-PPS; e Marcos Cals, do PSDB-DEM), Cid é o menos ruinzinho, mas ainda assim em um nível desanimador. Teve um mandato inteiro para tentar mudar algo no estado, e não conseguiu fazer quase nada de relevante. Foi praticamente uma continuação do governo anterior, de Lúcio Alcântara. Sem contar que sermos obrigados a aturar o prepotente e autoritário clã dos Ferreira Gomes (Ciro, Cid e Ivo) é dose pra leão... Infelizmente os demais candidatos são totalmente irrelevantes politicamente. O PSOL até tinha quadros para lançar alguém merecedor do meu voto, mas esses quadros optaram por concorrer a cargos legislativos. Enfim, meio contra a vontade, sinto-me compelido a votar em branco para o Governo do Estado.

Para Senador, um dos votos foi óbvio: José Pimentel, do PT. O atual deputado federal e ex-ministro da Previdência é uma das mais dignas figuras que se meteram a fazer política aqui no estado nas últimas décadas.

O outro candidato ao Senado pela coligação que apóia Dilma é o também deputado federal Eunício Oliveira, do PMDB, figura de passado e presente envolto em histórias nada edificantes e que faz política usando os muitos milhões de reais de sua fortuna pessoal, vinda principalmente do ramo de segurança privada (ele é o controlador de algumas das maiores empresas do ramo no país). Do outro lado, temos a candidatura à reeleição de Tasso Jereissati, do PSDB, personagem que dispensa maiores explicações, exceto para assegurar aos gentis leitores que não moram no estado que ele é muito pior dentro da política estadual do que vocês possam imaginar. Isso posto, é claro que não daria meu voto a nenhum dos dois, e optei por dar meu segundo voto para Senador ao candidato Tarcísio Leitão, do PCB, um histórico combatente contra as oligarquias locais. Ele não tem a menor chance de vencer, mas minha consciência ficará tranquila...

O meu voto para Deputado Federal foi o primeiro a ser definido. Poderia até dizer que já era certo já fazem quase 30 anos, que foi quando conheci Chico Lopes, candidato à reeleição pelo PCdoB, e a quem tenho a honra de chamar de amigo. Nos diversos mandatos como vereador, deputado estadual e deputado federal, Chico Lopes sempre se portou exemplarmente, tanto política quanto pessoalmente. E é um dos melhores papos que conheço...

Para Deputado Estadual, meu voto ficou balançando entre a legenda do PCdoB e o voto no candidato à reeleição Heitor Ferrer, do PDT. Apenas nessa reta final resolvi escolher Ferrer, que tem sido uma voz quase solitária na Assembléia Legislativa enfrentando o rolo compressor da maioria governamental montada por Cid Gomes, e mesmo assim incomodou bastante. Além disso, Ferrer é do PDT, e minhas origens brizolistas costumam dar sinal de vida nessas horas.

13 de agosto de 2010

Na batalha sobre uma Universidade, começa a luta pelo futuro do Irã

Tendo em vista o pouco que se publica em português (e com um mínimo de conhecimento do assunto...) sobre a situação interna no Irã, resolvi colocar a seguir a tradução de um texto de Daniel Berman no blog FiveThirtyEight, e que desnuda alguns fatos que não costumam aparecer com frequencia na mídia ocidental.

(Para quem tiver facilidade com o inglês, sugiro ir direto ao texto original, incluindo um interessante debate nos comentários, até porque como tradutor sou apenas esforçado...).


Nos últimos meses, a política interna iraniana perdeu espaço na mídia ocidental, especialmente pelo foco voltado para os problemas do Iraque e do Afeganistão, ficando apenas as discussões intermináveis sobre o programa nuclear do Irã. Mas isso não significa que a luta política dentro do regime parou. Os últimos três meses tem sido dominados por um confronto entre o presidente e o Parlamento, a partir da tentativa do governo de Mahmoud Ahmadinejad de aprovar uma lei que possibilitasse assumir o controle da maior universidade privada do Irã, o que provocou um choque com o Principalistas (termo que os fundamentalistas usam para si próprios), majoritária na Majlis, o Parlamento do Irã . Este conflito, por sua vez, prenuncia uma grande luta pela sucessão do presidente e, especialmente, do Líder Supremo Ali Khamenei.

A batalha sobre a Universidade Azad, um sistema de campi que atende mais de um milhão de estudantes, é tudo menos uma questão acadêmica, a partir do patrimônio líquido da instituição, estimado em cerca de 250 bilhões de dólares. Porque a universidade está intimamente ligada com o ex-presidente Rafsanjani, a disputa é parcialmente um esforço por Ahmadinejad para atacar seu poderoso rival, e em parte uma tentativa de reprimir a agitação estudantil, assumindo o controle da maior universidade do país - uma universidade que, até recentemente, havia sido um refúgio seguro para a oposição. Mais importante, porém, o conflito representa a alteração das posições políticas do Presidente e do Líder no mundo criado pela eleição presidencial de 2009.

Central para a essa nova ordem das coisas, é a independência do presidente em relação ao Líder. As notícias no momento das eleições foram fortemente focada na pessoa de Khamenei, algo que foi, em muitos aspectos incentivado pelo próprio Ahmadinejad, que parecia tentar, à sua maneira, separar-se dos acontecimentos. Ahmadinejad deixou o país um dia depois que os resultados foram anunciados, e ainda criticou (ao menos oficialmente e de maneira pouco enfática) a repressão que se seguiu. Contrariamente às sugestões de que a natureza de sua reeleição iria enfraquecê-lo, Ahmadinejad emergiu ainda mais forte, até porque Khamenei, no decurso das eleições, perdeu parte de seu poder simbólico ao tomar partido. Na realidade, a autoridade do líder sempre dependeu de sua mediação entre as facções e, embora muitas vezes alinhado com Ahmadinejad, o próprio fato de que ele poderia a qualquer momento intervir apoiando os adversários do Presidente fez com que o apoio dele fosse vital para os aliados de Ahmadinejad. Entretanto, com os adversários impotentes, a importância e a influência de Khamenei diminuiu dramaticamente, e ele foi forçado a se mover para criar uma nova força de compensação que ele possa usar contra as ambições do presidente.

Isso explica os desesperados apelos de Khamenei para figuras como Rafsanjani, instando-os a permanecer dentro do sistema, bem como a sua recente declaração de que os iranianos tinham uma obrigação religiosa para obedecer ao Líder. Ahmadinejad pode ser muitas coisas, mas tolo não é uma delas, e ele está claramente consciente de onde se encontram os últimos obstáculos ao seu poder pessoal. Na verdade, ele começou a se mover contra eles mesmo antes das eleições do ano passado, quando demitiu o seu ministro do Interior, Mostafa Pour-Mohammadi, após este último ter feito um relatório confidencial ao Líder sobre irregularidades nas eleições de 2008 para o Majlis. Tradicionalmente os presidentes iranianos aceitam as indicações do Líder para o Ministério do Interior, e Khamenei deixou claro o seu descontentamento com a demissão, fazendo de Pour-Mohammadi seu conselheiro pessoal em questões de segurança. O atual embate sobre a Universidade explicitou o confronto, pois ao invés de ser entre um grupo de "conservadores dissidentes" e o Presidente, é com Ali Larijiani, o Presidente do Majlis, que é um ex-membro da equipe de assessores de Khamenei, e que já representou o Líder internacionalmente. O simples fato de Larijiani, um homem tão próximo de Khamenei, estar agora à frente de uma coalizão que se estende desde os poucos reformistas ainda restantes no Majlis até a corrente majoritária dos Principalistas é sintomática do grau em que Ahmadinejad é temido em círculos poderosos.

A questão da sucessão do Líder destaca-se dentre esses temores. Com Khamenei tendo já 75 anos, as manobras relativas a sucessão de manobras vem tendo em curso há algum tempo. São amplamente conhecidos rumores de que Mojtaba Khamenei, o filho do atual Líder, está interessado na posição, e que esse interesse está por trás de seus esforços em nome de Ahmadinejad, tanto em 2005 (quando ele pediu à Guarda Revolucionária para fazer campanha em favor de Ahmadinejad), quanto em 2009 (quando é dito que ele foi muito mais longe). Porém, Mojtaba não é um aiatolá, e tem poucas credenciais religiosas, e apesar disso poder torná-lo atraentemente fraco para o círculo de poder do presidente, todos os esforços para elevá-lo seriam repletos de dificuldades, exatamente pelas mesmas razões. Como conseqüência, ele parece ser o único a levar sua candidatura à sério. Mais plausível como candidato é o aiatolá Taqi Misbah-Yazdi, mentor religioso do Ahmadinejad. Visto como o ideólogo da extrema-direita religiosa em Qom (centro religioso iraniano), Misbah-Yazdi tem reiteradamente defendido a utilização da violência como justificável em disputas políticas, e há rumores de que no ano passado que ele ainda mais longe, com a emissão de um decreto religioso apoiando o assassinato de manifestantes . Ele defendeu atentados suicidas, afirmando que "quando a proteção do Islã e dos muçulmanos depender de operações de martírio, elas não só são permitidas, mas se tornam uma obrigação. "

A perspectiva de Misbah-Yazdi como líder é algo que não deve assustar apenas os iranianos. Um regime iraniano liberado mesmo da ficção de um compromisso com a democracia seria um potencial aliado de ditaduras ou de grupos extremistas em todo o Terceiro Mundo, ao mesmo tempo que o zelo revolucionário internacionalista de Misbah-Yazdi e seu círculo, em falta na elite iraniana desde a década de 1980, seria dado "à rédea solta". As consequências para o Ocidente seriam enormes, indo desde questões como conflito entre Israel e os palestinos até a luta contra a proliferação nuclear, especialmente com um regime que não só não se preocuparia com o isolamento que as sanções internacionais trazem, mas que poderia até recebê-lo (o isolamento) de bom grado. Misbah-Yazdi indicou que ele vê asinfluências estrangeiras como a força motriz por trás da alienação da juventude iraniana em relação ao islamismo, e que as perspectivas de investimentos estrangeiros seriam a motivação por trás da "apostasia" de figuras como Rafsanjani. Parece duvidoso que ele encontraria muito o que temer nas ameaças de novas sanções por parte do governo Obama.


Dada a importância da posição para o futuro do Irã, é improvável que as forças anti-Ahmadinejad no Irã se finjam de mortas. A eleição para a Assembleia dos Peritos, em 2006, foi uma das poucas ocasiões em que o Conselho dos Guardiões, normalmente não desafiador, se postou contra o Presidente, desqualificando um grande número de candidatos pró-Ahmadinejad, incluindo o filho de Misbah-Yazdi. Quando a Assembléia se reuniu para eleger seu Presidente, Rafsanjani derrotou Misbah-Yazdi por uma votação de 41-31, com o presidente do Conselho dos Guardiões, o linha-dura aiatolá Jannati, tendo 14 votos. A vitória de Rafsanjani,entretanto, revelou-se limitada. Sua base de apoio falhou em permanecer unida em face da intimidação pelos Basij (forças paramilitares) no verão passado, e não há razão para acreditar-se que faria muito melhor agora e no futuro próximo, quando os riscos são potencialmente maiores.

Como conseqüência, enquanto Rafsanjani prefere sua própria candidatura, e os reformistas preferem qualquer não-Principalista, a alternativa mais provável para Misbah-Yazdi é provavelmente um Principalista anti-Ahmadinejad, com o nome de Hashemi Shahroudi, o ex-chefe de Judiciário. Um dos líderes da repressão judicial aos reformistas ligados ao ex-presidente Mohammad Khatami, Shahroudi dificilmente poderia ser tomado como um moderado, mas ele tem sido um forte crítico de Ahmadinejad, atacando a concentração de poder econômico e político nas mãos da Guarda Revolucionária e criticando a mídia estatal para cobertura das eleições, que ele alegou ter sidoi tendenciosa em favor do presidente. Esse é um testemunho da fraqueza política dos reformistas, e até mesmo dos Principalistas moderados, que são susceptíveis de estar na posição de apoiar um homem que o prendeu milhares de jornalistas e ativistas pró-democracia, mas é a oposição à Ahmadinejad e não a ideologia que une a oposição iraniana, ou pelo menos as partes que permanecem dentro do regime.

Isto é, se eles seguirem as regras. Na atual disputa, Ahmadinejad mostrou poucos sinais de estar disposto a deixar a oposição do Majlis detê-lo. Logo após a votação e aprovação da lei, os Basij fizeram um grande protesto na frente do prédio do Majlis, insultando seus membros como ladrões, e no dia seguinte, eles impediram a entrada de deputados suficientes para conseguir uma maioria para a inversão da votação anterior. Pouco tempo depois, o aiatolá Sadegh Larijani, líder do Judiciário, invalidou uma decisão judicial que havia suspenso os efeitos da nova lei. Enquanto o Líder Supremo interveio em 25 de julho, pedindo que as partes recuassem, um analista político iraniano disse ao Turkish Weekly que "O Líder Supremo já não detém o poder de conduzir os fatos. Muito em breve, uma nova rodada na luta pela Universidade Azad começará”.

5 de agosto de 2010

Voltando à vidinha de sempre

Acabaram as (curtas) férias e, para recomeçar, nada melhor que uma imagem que parece meu atual estado de espírito. (Ok. Menos...)


Havasu Falls, Grand Canyon, Arizona.
Fotógrafo: Ryan C. Malone

12 de julho de 2010

Depois da festa, a realidade

No post anterior falamos da efervescência política na Catalunha, e da enorme manifestação em Barcelona na véspera da final da Copa do Mundo.

Com a Espanha campeã, as opiniões se dividiram. Alguns analistas crêem que o título poderá ajudar a "unificar" o país, mesmo com as flagrantes diferenças culturais e históricas entre suas regiões. Outros acreditam que especialmente entre os catalães, maioria na seleção campeã, as exigências por maior autonomia, chegando mesmo até a independência, vão aumentar.

Estou entre os que acreditam que a unidade do estado espanhol será bastante testada no futuro próximo.

E uma imagem é bem sintomática:


Puyol e Xavi, expoentes da seleção espanhola, comemoram o título, ainda no gramado, carregando a Taça FIFA e a bandeira... da Catalunha.

10 de julho de 2010

A Espanha em uma encruzilhada

A Copa do Mundo termina amanhã, com Espanha e Holanda fazendo o jogo final.

Mas o assunto aqui não será o futebol, apesar deste não ser totalmente alheio ao tema.

Em meados da semana que passou o Tribunal Constitucional espanhol (o equivalente ao nosso STF) divulgou o teor completo de uma sentença que responde a questionamentos feitos pelo conservador Partido Popular sobre a constitucionalidade de grande parte das cláusulas do Estatuto de Autonomia da Catalunha, aprovado em referendo no ano de 2006.

Na sentença, a corte declara inconstitucionais diversos itens do Estatuto e reinterpreta vários outros. Os mais significativos, politicamente falando, são a negação da existência jurídica de uma "nação catalã" (inclusive com a declaração de inexistência de "direitos históricos" que fundamentem o governo autônomo catalão), a restrição ao uso preferencial da língua catalã e a restrição da autonomia do judiciário regional.

Um resumo do documento já era conhecido desde Junho, e provocou imensa reação na Catalunha. Tanto que praticamente todas as organizações políticas, culturais e esportivas se uniram para convocar uma manifestação neste sábado em Barcelona que reuniu algumas centenas de milhares de pessoas (o número exato é controverso, mas certamente foi a maior manifestação nacionalista catalã desde o fim do franquismo).

O tom na manifestação deveria ser apenas de repúdio a decisão do Tribunal, e em defesa do Estatuto. Porém o que se viu foi um grande apoio às posições no rumo da independência total da região. A extensão exata desse apoio se verá nas eleições regionais que acontecerão em breve, quando os partidos independentistas tentarão assumir o controle do Governo Autônomo.

Mesmo espanhóis de outras regiões temem a extensão das consequencias da decisão judicial, e que ela possa inviabilizar o Estado Espanhol baseado em comunidades autônomas.

Em resumo, na véspera daquilo que pode ser uma celebração da Espanha moderna, democrática e multicultural, a unidade do país passou a ser ameaçada de uma forma inesperada e séria.

As próximas semanas serão bem agitadas na península...

11 de junho de 2010

Obrigatoriedade do voto: o fim está próximo?

Essa aqui é uma daquelas notícias que pegam quase todo mundo de surpresa e levantam sérios questionamentos quanto às consequências.

Resumindo, a CCJ do Senado aprovou um projeto do Sen. Marco Maciel que elimina a quase tprojeto do Sen. Marco Maciel que elimina a quase t5es para aqueles eleitores que deixam de comparecer às urnas. Ficaria apenas a multa (irrisória) e a possibilidade de cancelamento do título de eleitor em caso de não comparecimento em 3 eleições seguidas.

Proibição de participar de concurso público, de conseguir empréstimo em órgão financeiro estatal, de tirar RG ou passaporte, de matricular-se em instituição de ensino pública, tudo isso seria eliminado.

Apesar de não estar explícito, o que aconteceria de fato seria a virtual eliminação da obrigatoriedade de votar. A menos que a multa fosse significativamente aumentada (hoje é de no máximo R$ 3,51), muitos eleitores deixariam de votar, ou por razões de consciência ou por motivos práticos (residir distante do domicílio eleitoral, por exemplo).

Pessoalmente, sou contra o voto obrigatório. Ele acaba propiciando distorções (do tipo "curral eleitoral", que existe em todo o país e em variadas formas), além do fato de que votar é um direito, e não pode ser uma obrigação.

Entretanto, reconheço que o tema é polêmico, e existem argumentos honestos nas duas direções.

E vocês, fiéis leitores, o que pensam sobre o assunto?

6 de junho de 2010

Justificando o injustificável

Fuçando pela rede, dei de cara com este artigo de Stephen M. Walt na Foreign Policy.

Como o título diz, é um guia para ajudar a "defender o indefensável". Tudo a ver com acontecimentos recentes...

Eis as declarações que ele sugere como utilizáveis nessas ocasiões (tradução minha, vão desculpando aí...).

Aqui estão os meus 21 pontos:

1. Nós não fizemos isso! (Negativas geralmente não funcionam, mas sempre vale a pena tentar).

2. Sabemos que você acha que fizemos isso, mas não estamos admitindo nada.

3. Na verdade, fizemos alguma coisa, mas não o que somos acusados.

4. Ok, nós fizemos, mas não foi tão ruim assim ("waterboarding" não é tortura realmente, você sabe...).

5. Bem, talvez tenha sido muito ruim, mas foi justificado e/ou necessário. ("Nós apenas torturamos terroristas, ou suspeitos de terrorismo, ou pessoas que possam conhecer um terrorista ...")

6. O que fizemos foi realmente muito contido, quando você considera o quão poderoso nós somos. Quero dizer, nós poderíamos ter feito algo ainda pior.

7. Além disso, o que fizemos foi tecnicamente legal em algumas interpretações do direito internacional (ou pelo menos como nossos advogados interpretam a lei.)

8. Não se esqueça: o outro lado é muito pior. Na verdade, eles são "o mal"

9. Além disso, foram eles que começaram.

10. E lembre-se: Nós somos os mocinhos. Ninguém pode nos equiparar moralmente aos maus, não importa o que fizermos. Apenas os moralmente obtusos e os críticos equivocados poderiam deixar de ver esta distinção fundamental entre eles e nós.

11. Os resultados podem ter sido imperfeitos, mas nossas intenções eram nobres. (Invadir o Iraque pode ter resultado em dezenas de milhares de mortos e feridos, e milhões de refugiados, mas...)

12. Nós temos que fazer coisas como essa para manter a nossa credibilidade. Você não vai querer encorajar os bandidos...

13. Especialmente porque a única língua que o outro lado entende é a força.

14. Na verdade, era imperativo para lhes ensinar uma lição. Pela enésima vez.

15. Se não tivéssemos feito isso para eles, sem dúvida eles teriam feito alguma coisa ainda pior para nós. Bem, talvez não. Mas não poderíamos dar essa chance.

16. Na verdade, nenhum governo responsável poderia ter agido de outra forma em face desse tipo de provocação.

17. Além disso, não tínhamos escolha. O que fizemos pode ter sido horrível, mas todas as outras opções tinham falhado.

18. É um mundo cruel, e as pessoas sérias tem que entender que às vezes você tem que fazer essas coisas. Somente idealistas ignorantes, simpatizantes do terrorismo, covardes conciliadores ou esquerdistas traidores poderiam questionar nossas ações.

19. Na verdade, o que fizemos valerá a pena eventualmente algum dia, e o resto do mundo irá agradecer-nos.

20. Nós somos vítimas de um duplo padrão. Outros estados fazem as mesmas coisas (ou pior) e ninguém reclama deles. O que fizemos foi, portanto, admissível.

21. E se você continuar a criticar-nos, nós vamos ficar muito chateados e podemos fazer algo muito louco. E você não quer isso, não é verdade?

Repita o quanto for necessário.


2 de junho de 2010

Emergindo...

Olá, amigos do De Olho no Fato.


Ao contrário do que alguém possa pensar, este roçado não foi abandonado definitivamente à fúria dos elementos.

Simplesmente, o zelador do boteco mudou de área de atividades dentro da mesma organização, e o tempo, que já não era folgado, encurtou ainda mais.

Além disso, reconheço, as últimas semanas foram recheadas de assuntos que não deram "estímulo" para escrever. Até mesmo a última besteira feita pelo governo israelense só mereceu de mim um simples parágrafo em outro espaço, nada mais...


Dito isso, e deixando claro que voltaremos à programação normal à qualquer momento, deixo um convite.

Semana que vem começa a Copa do Mundo. Apesar de pessoalmente não nutrir a menor simpatia pela seleção da CBF/Dunga, e achar que ela não irá longe, resolvi acompanhar a disputa de uma forma mais intensiva.

Dessa forma convido a todos a visitarem o site irmão do De Olho, o Torcedor Obsessivo Compulsivo, onde teremos posts diários (ou mais que isso...), e pretendemos que os amigos dêem seus pitacos, entendam ou não de futebol.

Até porque o Torcedor Obsessivo Compulsivo, como o próprio nome indica, pretende ser um ponto de encontro de torcedores, e não de analistas (Ok, Cabral, dá para abrir uma exceção...), além de fazer questão de não se levar à sério.

A participação e a opinião de todos e de qualquer um será muito bem vinda.

A cobertura começa em algum momento da semana que vem, se não chover...

12 de maio de 2010

Dia carregado

Esta terça-feira, 11 de maio de 2010, foi daqueles dias bem carregados, e de eventos nada auspiciosos (pelo menos para mim).

Primeiro foi o Zang..., digo, Dunga, que divulgou a lista dos convocados para a Seleção Brasileira na Copa do Mundo.

Aqui pra nós: Tô fora !!!

Me sinto totalmente desobrigado de torcer por uma equipe que não considero representativa do nosso futebol. Pior: acho que, em grande parte, foi formada por critérios que passam longe da qualidade.

Por isso tudo, procederei da mesma forma de quando o Santos era dirigido pelo "profexô" Luxa: estou pedindo férias da condição de torcedor da Seleção Brasileira.

Reconheço que alguns dos convocados (Julio Cesar, Gomes, Maicon, Daniel Alves, Lúcio, Juan , Kaká, Nilmar e Luis Fabiano) são realmente merecedores de vestir a amarelinha. Os demais se dividem entre os bem discutíveis, porém defensáveis (Luisão, Thiago Silva, Gilberto, Elano, Julio Baptista, Ramires e Robinho), e aqueles que eu não convocaria nem com reza braba (Doni, Michel Bastos, Gilberto Silva, Felipe Melo, Josué, Kleberson e Grafite).


O segundo fato foi o líder dos Conservadores, David Cameron, assumir como primeiro-ministro da Grã-Bretanha, após cinco dias de indefinições e negociações.

Apesar de eu ter inúmeras restrições às políticas adotadas pelo governo trabalhista de Gordon Brown, considero que ele (ou algum outro líder dos Trabalhistas) ainda seria preferível, mesmo que se fizesse necessário uma coalizão com outras forças progressistas.

Bem, foram os conservadores que conseguiram formar uma coalizão.

Agora, nada mais resta senão dizer: God save the britons.

Eles vão precisar...


Para terminar, um fato que mistura algo dos dois anteriores.

Meu time de coração na Inglaterra, o bom e velho Nottingham Forest, estava lutando para subir para a 1ª divisão, a Premier League.

No play-off semifinal estava enfrentando o Blackpool, e havia perdido o primeiro jogo por 2X1, jogando fora.

Ontem, em casa, precisava reverter o resultado para chegar à final.

Não deu: perdeu por 4X3. Consegui ficar na frente do placar duas vezes, e bobeou... Levou 3 gols em apenas sete minutos...

Lá vamos nós para mais um ano na Segundona...

Robin Hood e seus amigos com certeza não iriam gostar...



3 de maio de 2010

Um teste pesadíssimo para o meu pobre coração de torcedor

Dois jogos. Simultâneos. Em cada um deles estava uma das minhas paixões (Sim, me reservo o direito de, futebolisticamente falando, ter o coração dividido ao meio, sem que as duas partes quase nunca entrem em conflito).

Em um canal, a final do Paulistão 2010. O Esquadrão da Vila famosa, o meu Santos, contra o surpreendentemente bem arrumado Santo André.

Em outro canal, a decisão local, do Campeonato Cearense. O meu Fortaleza, o glorioso Leão do Pici, buscando um inédito tetracampeonato contra o arquirival, o Ceará.

Qual jogo assistir? Ficar mudando de um para o outro seria uma opção?

A missão do Santos parecia menos complicada (podia perder por um gol de diferença), por isso mesmo resolvi priorizar a final do Paulista, pois temia ficar nervoso demais assistindo a final do campeonato da terrinha (o Fortaleza precisava empatar para levar o título sem ter que ir para os pênaltis).

Nem suspeitava de como estava enganado...

O Santos terminar o primeiro tempo com um jogador a menos (tivemos dois expulsos contra um do adversário), e perdendo por 3X2 dão uma boa amostra do que tive que enfrentar. E ainda faltavam 45 minutos...

No Castelão, 0X0 no intervalo de um jogo amarrado, apesar de bem menos do que no domingo anterior. Nada decidido, mas parecíamos estar indo bem...

No Pacaembu, o que se viu no 2º tempo foi uma das maiores demonstrações de determinação que os estádios brasileiros já presenciaram. Especialmente após a expulsão de mais um jogador do Santos. Oito santistas contra dez do time do ABC. Parecia que o gol decisivo do Santo André sairia a qualquer segundo, e ele realmente quase saiu ( a trave, a abençoada trave, não permitiu). Também não saiu porque os heróis restantes resolveram suar sangue, se necessário fosse, e estavam sendo guiados por um monstro: Paulo Henrique Ganso (falo sobre ele mais adiante).

Enquanto isso, no Castelão, o adversário fez 1X0 no início do 2º tempo e... recuou. O Fortaleza partiu pra cima, martelou, martelou, até que empatou pouco antes dos 30 minutos. O resultado nos dava o tetra, mas a equipe (mesmo que inconscientemente) acho que dava pra administrar o resultado.

Não deu. Eles tornaram a marcar aos 38 minutos, e não conseguimos reagir novamente.

Não tinha jeito: vamos à sofrida decisão por pênaltis.

Aí surgiu o herói da tarde/noite: o nosso goleiro, Fabiano. Ele defendeu espetacularmente duas cobranças, e viu o adversário bater outra no travessão. Coincidência: ano passado, na final, o nosso goleiro de então, o jovem Douglas, hoje na reserva, também foi o astro, pegando todas: as boas, as ruins, as podres, tudo mesmo...

Era o tão sonhado Tetracampeonato que chegava... O nono título em onze anos.

Como meu baqueado coração resistiu a essa overdose de emoções, juro que não sei... Talvez uma dose extra de anti-hipertensivo tomada antes tenha ajudado, mas certamente foi algo a que não deveria me expor.


***

Mesmo antes do jogo de ontem já havia um clamor pedindo que o técnico Dunga convocasse Neymar e Paulo Henrique Ganso para a seleção brasileira que vai à África do Sul.

Acho que Neymar deveria ser chamado, por que é um fora-de-série com a bola no pé. Mas os argumentos dos que alegam que ele ainda não está pronto e não seria assim tão necessário provavelmente serão vitoriosos, e ele não deve ser chamado. Uma pena. Poderia ajudar bastante.

Quanto à Paulo Henrique Ganso, a questão é diferente. Estamos falando do que é provavelmente o maior meia surgido no nosso futebol em quase 10 anos. Isso sob o aspecto técnico, porque se somarmos a liderança, a atitude, o desprendimento, veremos que ele se encaixa em uma categoria muito seleta de craques.

Desde ontem, já vi diversos jornalistas e blogueiros o compararem a Gerson, o canhotinha de ouro. no começo achei um pouco de exagero, mas pensei melhor e passei a achar a comparação no mínimo plausível.

Vou um pouco além. A elegância no toque de bola aliada a uma enorme capacidade de lutar me fazem lembrar de outro craque excepcional: Zinedine Zidane.

Gerson, Zidane... Será heresia comparar um garoto de 20 anos a esses craques geniais?

O que sei é que Dunga não pode cometer o pecado de não dar uma chance à Paulo Henrique Ganso, enquanto leva para a Copa do Mundo uma série de "esforçados".


20 de abril de 2010

A velha Albion em polvorosa

Da esq. para a direita: Nick Clegg, David Cameron e Gordon Brown.


No próximo dia 06 de maio os britânicos irão às urnas para renovar seu parlamento. Pelas regras atuais, são 650 vagas na Câmara dos Comuns distribuídas por igual número de "constituency" (algo como distrito eleitoral) espalhados por toda a Grã-Bretanha. Atualmente 10 partidos tem representação no parlamento britânico, porém mais de 95% das cadeiras estão na mão de apenas três: o Trabalhista, de esquerda muito moderada, atualmente com 346 cadeiras, o Conservador, que navega entre a direita e a centro-direita, com 208 cadeiras, e o Liberal-Democrata, que se situa entre o centro e a centro-esquerda, com 67 cadeiras (aviso: as definiçoes ideológicas acimas são minhas, e levam um pouco do referencial brasieliro). A quase totalidade das demais cadeiras estão com partidos que representam regiões específicas, como Escócia, Gales e Irlanda do Norte.

Vendo a situação alguns meses atrás, tudo parecia se encaminhar para uma vitória acachapante dos conservadores, liderados por David Cameron, destroçando os trabalhistas, do atual primeiro-ministro Gordon Brown. Os liberais-democratas, liderados por Nick Clegg, manteriam aproximadamente sua força no atual parlamento. Para se ter uma ideia, os conservadores passaram vários meses, até a metade de Janeiro, mantendo pelo menos 10 pontos percentuais de vantagem sobre os trabalhistas. Apesar de a eleição ser distrital pura, e consequentemente os níveis de votação nacional não se reproduzirem exatamente em quantidade de cadeiras, os conservadores tinham a certeza de poder retomar a maioria, usando como bandeira o impacto da crise econômica mundial no Reino Unido e a incapacidade de Gordon Brown em minimizar e reverter esse impacto (e sem contar a absoluta falta de carisma de Brown).

Entretanto, desde Janeiro as pesquisas mostraram um encurtamento da vantagem dos conservadores, com ela variando entre três e sete pontos, dependendo do instituto de pesquisa, números esses que davam esperanças aos trabalhistas de manter a maioria. Tudo isso resultante de vacilações e incertezas do lado dos conservadores que, em vez de solidificar sua base mais ideológica e partir daí para conquistar outros segmentos, preferiram mostrar uma face de centro-direita, o que não empolgou o eleitorado.

No início de Abril, conforme a tradição, Brown foi até a Rainha pedir a dissolução do Parlamento e a marcação das eleições para 06 de maio. Só a partir daí a campanha realmente pegou fogo.

Minto. O evento que realmente fez as coisas acontecerem foi o debate televisivo (novidade na Grã-Bretanha) do dia 15 de Abril. Seus noventa minutos tiveram o condão de colocar toda a política britânica de pernas para o ar.

Apesar da maioria dos eleitores esperar que Cameron e Brown partissem para a ofensiva de forma decisiva, o que se viu foi um desempenho magistral de Nick Clegg. O líder dos liberal-democratas demonstrou que podia enfrentar os outros dois candidatos de igual para igual, e até com alguma vantagem. As pesquisas deram, sem contestação, a vitória no debate à Clegg, e desde então tem mostrado o avanço dos liberal-democratas. Os últimos dados colocam o partido em segundo lugar, quase empatados com os conservadores e um pouco à frente dos trabalhistas.

Faltando 16 dias para a votação, e com mais dois debates na TV programados, qualquer coisa pode acontecer. O mais provável é que nenhum partido alcance a maioria absoluta. Dependendo do desempenho dos liberal-democratas, a vantagem pode ser dos trabalhistas (em decorrência de sua forte base na Escócia e Norte da Inglaterra) ou dos conservadores (que tem o centro e sul/sudeste da Inglaterra como seu reduto mais fiel). Os liberal-democratas com certeza aumentarão seu número de cadeiras, mas seu maior impacto será nos distritos em que, mesmo sem vencer, conseguirão votos suficientes para definir o eleito.

A preço de hoje, os números aproximados seriam estes: Conservadores com 240 cadeiras, Trabalhistas com 260 cadeiras e Liberal-democratas com 115 cadeiras. O restante iria para os partidos com base regional (o mais forte é o SNP, partido nacional escocês) e para os independentes.

A briga vai ser boa, e estaremos acompanhando de perto.


17 de abril de 2010

Eleições no horizonte, para tudo que é lado

Democracia e eleições não tem necessariamente uma relação de causa-efeito. Muitas ditaduras e governos cerceadores da liberdade mantém algum tipo de processo eleitoral apenas para "limpar a imagem" ou para atender necessidades de acomodação de forças internas.

Mas o processo eleitoral sempre atrai atenções. Quando nada, de malucos (eu, eu...) que adoram analisar pesquisas e resultados de eleições. Tanto faz se é uma eleição para prefeito em Quixeramobim ou a eleição presidencial americana: todas tem seu charme.

Evidente que algumas (especialmente nas democracias ocidentais) são mais fáceis de acompanhar, pela exuberância de dados disponíveis. Outras são bem complicadas por uma série de razões. Entender o mecanismo eleitoral no Japão ou na Índia é bem difícil, mas não tanto quanto conseguir dados das eleições parlamentares do Tadjiquistão ou de São Tomé e Príncipe... (OK. É coisa de maluco mesmo...).

Neste 2010, a previsão é de o mundo acompanhar um total de 12 eleições presidenciais e 15 eleições legislativas, além diversas outras a nível regional e local ( a francesa em março passado foi um bom exemplo).

Reparem que eu falei "previsão", por que tanto o cancelamento de eleições previstas (Ex. Haiti) quanto a realização de pleitos não programados (ex. Polônia) é bem comum.

Fazendo jus ao seu nome e a mania de seu redator acima relatada, este espaço pretende ficar De Olho em alguns dos pleitos deste ano. Óbvio que a eleição presidencial e legislativa aqui no Brasil será a mais mencionada, seguida da eleição para o Congresso americano (por todas as implicações dela decorrentes).

Para começar, faremos durante as próximas semanas um acompanhamento das eleições parlamentares na Grã-Bretanha, que se prenunciam as mais acirradas em várias décadas, com 3 partidos com chances reais.

Conto com a ajuda e a participação de todos os 1,9 fiéis leitores deste barraco.

14 de abril de 2010

Além da pura matemática



Hebron, Cisjordânia, março de 2010.

150 colonos judeus entrincheirados em um quarteirão...

...protegidos por 1.500 soldados israelenses...

...e cercados pelos 150.000 palestinos habitantes da cidade.


Essa conta não vai fechar nunca.

8 de abril de 2010

Carta aberta ao Dep. José Genoíno

Caro Deputado José Genoíno,

De cara, me perdoe pela absoluta falta de respeito às formalidades durante este texto. Faço isso por duas razões.

Primeiro: você é um parlamentar, pago (e muito bem) com o meu, o nosso suado dinheirinho. Logo, "nós, o povo" somos o patrão, e vocês estão aí para, em último caso, atender as nossas vontades. Por isso mesmo, dispensam-se as mesuras exageradas.

Além disso, e apesar de ter um mandato pelo Estado de São Paulo, você é cearense, meu conterrâneo. Conhecemos bem de onde você e sua família vem, o que fizeram e o que fazem. Conhecemos MESMO... Logo, deixemos as frescuras de lado.

Direto ao assunto: você perdeu uma ótima, diria até excelente, chance de ficar caladinho da silva nesse debate sobre o Projeto Ficha Limpa. De todos os membros de sua bancada (e talvez de toda Câmara), você deveria ser dos últimos a se intrometer na discussão. E não me venha com essa conversa fiada de "exercer o mandato popular"... Alguém que está sendo alvo de um processo no STF não deveria nem comparecer ao plenário durante as discussões do projeto. Qualquer coisa que você fizer e/ou disser vai ficar claramente marcado como "legislar em causa própria".

Como se não bastasse, não venha se meter a "botar boneco" com o projeto alegando que ele fere a Constituição, que tolhe direitos, etc. Direito quem tem é o povo de não permitir que um bando de pessoas já condenadas por todo tipo de crime tente conseguir a proteção das imunidades parlamentares e dos privilégios que um mandato proporciona.

Veja bem essa sua declaração: "Essa é uma lei casuística, fere o devido processo legal. É o Judiciário quem vai escolher quem será candidato, que vai tutelar o processo político. Quem tem que tutelar é o povo, é o cidadão, na urna secreta." Deputado, isso é um sofisma sem tamanho. Afinal de contas, o Judiciário é um poder que também representa a vontade do povo. Juízes existem para defender o correto cumprimento da lei e de seu espírito, e com isso proteger a sociedade contra aqueles que não se portam corretamente.

Sinceramente, estou com o saco cheio das hipocrisias de supostos "defensores da democracia". Deputado, a democracia verdadeira abomina a corrupção. Dizer que os fins justificam os meios é algo medieval. E o Brasil merece mais do que isso.

E pra terminar, um conselho: como diria alguém acolá, quando a esperteza é grande demais, ela engole o esperto.

Saudações cearenses.

3 de abril de 2010

Futebol e Religião: favor não misturar...

... pois a chance de idiotices colossais é enorme.

Aqui quem vos fala é um fã inveterado de futebol, e que tem uma fé (alguns leitores sabem qual é, mas nesse momento não faz a menor diferença...), e que acredita piamente na liberdade religiosa plena, mas também no Estado radicalmente laico (já falei disso anteriormente).

Tempos atrás, a FIFA expressou a intenção de restringir demonstrações religiosas exageradas dentro dos campos de futebol. Alegou a necessidade de respeito aos diferentes credos (até podemos duvidar da explicação, que provavelmente esconde outro tipo de motivação, mas vá lá que seja...) .

Concordo totalmente. O fato de que todo atleta (aliás, todo ser humano...) tem o direito de professar ou não qualquer tipo de crença religiosa não dá a eles o direito de usar os eventos esportivos como palco de manifestações religiosas, muitas vezes com o mal disfarçado intuito de proselitismo.

A seleção brasileira, já de muito tempo, tornou-se reincidente específica e genérica nesse tipo de atitude. Quantas vezes não vimos os jogadores se reunirem no centro do gramado, após alguma conquista, e se ajoelharem para rezar, em um espetáculo totalmente destoante com a ocasião. À boca miúda, se fala de uma verdadeira patrulha ideológica dentro do elenco (exercida por alguns praticantes de vertentes mais sectárias), com alguns jogadores sendo "isolados" em função de sua fé ou da falta dela.

Na tarde da última quinta-feira, ocorreu um episódio que, apesar de não ter ocorrido dentro de campo, é reflexo de tudo o que expus acima.

O elenco do Santos Futebol Clube (time pelo qual torço em escala nacional) foi informado pela diretoria do clube que compareceriam ao Lar Espírita Mensageiros da Luz, instituição que cuida de portadores de Paralisia Cerebral, crianças e jovens. Quando o ônibus do clube chegou à porta da instituição, alguns jogadores se recusaram a descer, alegando incompatibilidade religiosa.

Não é de hoje que o Santos tem problemas internos causados (ou ampliados) por grupos de jogadores pertencentes à certos grupos religiosos mais intransigentes (preciso explicar?). Tanto que a atual diretoria, quando assumiu, baixou uma norma de conduta de conduta para os jogadores visando evitar (ou pelo menos reduzir) problemas. Parece que não funcionou. Tanto que aconteceu o que acima descrevi. A repercussão vem sendo enorme na mídia esportiva (se bem que parte dela se aproveitou do fato e tentou manchar a história do clube) e na torcida, que espera uma atitude firme da diretoria.

O fato de ser uma instituição com administração religiosa (independente do credo, ou da ostensiva ausência de um) não significa rigorosamente NADA. O que conta é que ela cuida de seres humanos que enfrentam uma cruel e incapacitante situação, e que precisam e merecem todo o tipo de ajuda e atenção. Deixar que qualquer tipo de posicionamento religioso se coloque como obstáculo é mostra de falta de humanidade, para dizer pouco.

Felizmente alguns jogadores já reconheceram o erro, pediram desculpas publicamente e se prontificaram a visitar a instituição. Menos mal. Agora é achar o cérebro dessa idiotice sem tamanho que envergonhou profundamente todos os santistas minimamente esclarecidos, e cuidar para que esse tipo de fato não se repita.

Voltando ao que tratamos no início: liberdade religiosa, sim; aproveitar-se de eventos públicos, não; deixar a religião tolher o humanismo, jamais.


26 de março de 2010

Não é por nada não...

Amigos do De Olho no Fato !!!

Estou escrevendo essas pessimamente digitadas linhas por dois motivos.

O primeiro é impedir que este sítio seja declarado pelo INCRA como terra improdutiva, ou pior, abandonada, e por isso sujeita desapropriação para fins de reforma agrária virtual.

Jamais permitirei que os malucos do MSS (Movimento dos Sem-Site), ou então da sua disidência, o MSB (Movimento dos Sem-Blog), ocupem este espaço para cantar loas para seus gurus, Reinaldo Azevedo e Olavo de Carvalho.

O que me alertou foi que até aquele galalau com sindrome anti-futebolistica resolveu retomar o blog dele...

Algo deve estar acontecendo...


O outro motivo é para explicar o meu relacionamento (ou a falta dele...) com a OI durante a última semana.

Eu acesso a internet em casa através do serviço Velox da supra-citada operadora, e acho que pago uma nota preta para pouco largura de banda a minha disposição. Mas até aí não tem muito o que fazer, pois as opções disponíveis aqui na terrinha são ainda piores...

O diabo é que faz exatamente uma semana que estou sem acesso à grande rede e sem telefone fixo. E o motivo seria cômico se não fosse trágico.

A companhia de saneamento do estado está realizando umas obras bem no limite do meu bairro, mais ou menos a 1 quilômetro da minha casa. Pois não é que uma das máquinas cortou totalmente o cabo que liga a estação da OI ao quadro aqui do bairro (aqueles armários que ficam em algumas esquinas)?

Isso aconteceu no começo da manhã de sexta-feira passada, que era feriado aqui, e apesar do grande número de reclamações (praticamente todos os prejudicados deram um jeito de ligar para protocolar uma reclamação), só na segunda-feira pudemos ver uma equipe mexendo no quadro.
Curioso como sou, fui até la´conversar com eles. E descobri que tudo está sendo feito pelo método lusitano de tentativa-e-erro. São três grupos: um na estação, um no local do rompimento do cabo e outro no quadro, e eles estão recompondo e testando os fios, um por um...

Tanto para mim quanto para os coitados dos trabalhadores que estão fazendo o serviço, isso é o que se chama purgar todos os pecados...


15 de março de 2010

25 anos de liberdade

Hoje, 15 de Março, completam-se 25 anos do fim oficial daquela que esperamos tenha sido a última ditadura que governou o Brasil.

Digo governou, mas poderia ter usado muitos outros termos: oprimiu, infelicitou, aterrorizou, silenciou, castrou, desorientou, ...

Apesar de em seus anos finais ela ter sido claramente menos cruel do que em seu período mais negro, entre 1968 e 1976 (os anos de chumbo), não deixa de ser meio surpreendente que tenha durado tanto tempo, vinte e um longos anos.

Sobre isso, lembro de uma conversa que tive meses antes da Anistia, com um bom amigo, velho combatente contra o arbítrio, que saiu-se com essa comparação:

- Cara, os nazistas ficaram 12 anos no poder, e foi preciso uma guerra daquelas para derrotá-los. Os milicos daqui já estão mandando a quase 15 anos... Os caras são duros de roer...

Desde aquele 15 de Março de 1985, a nossa democracia consolidou-se, com as amplas liberdades públicas que hoje desfrutamos.

Mas talvez naquele exato dia estejam as sementes dos problemas que hoje enfrentamos em nossa estrutura política. O que poderia ter sido um ponto de partida para mudanças amplas e profundas acabou sendo um bocado de "mais do mesmo".

Esperar Tancredo e receber Sarney foi um choque que demorou para ser verdadeiramente assimilado e processado. As influências disso na Constituição de 88 e no restante da nossa organização político-partidária são claros, exigindo reformas urgentes.

Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula.

Tão diferentes entre si, mas todos eles sem vontade ou sem poder para romper certos vícios. E todos tendo em comum raízes na luta política do tempo da ditadura, quaisquer que fossem os lados em que estivessem.

A eleição de 2010 não deverá produzir nada diferente, já que os dois principais candidatos começaram a vida política na luta contra o antigo regime.

Ou seja, para o bem ou para o mal, aquele tempo negro onde a força fez o mal que a força sempre faz continuará deixando seus rastros.

Quem sabe daqui a alguns anos ela não será mais do que uma lembrança ruim, um sonho mau que não assustará nem um pouco, e o país discutirá seus problemas sem se medir por réguas ultrapassadas.

26 de fevereiro de 2010

Você conhece o Marechal Montenegro?

Dias atrás presenciamos o episódio em que um general quatro-estrelas que perdeu a função que exercia em virtude de ter emitido opiniões nada lisonjeiras sobre o Plano de Direitos Humanos que o governo lançou, numa clara quebra de hierarquia

Perfeita a decisão. Hierarquia é fundamento básico de qualquer força militar, e nenhum militar na ativa pode questionar o poder civil. Sem exceções. Quanto ao conteúdo das críticas, foi um amontoado de bobagens que ninguém leva a sério, exceto os saudosistas da Redentora e os inimigos transloucados do atual governo. Governo que tem seus erros (muitos) e acertos (outro tanto), mas que não pode ser acusado de revanchista e inimigo da democracia.

Por um acaso, logo depois do episódio entrei em contato mais próximo com a história de vida de um militar que, por não ter as melhores relações com alguns dos cabeças do Golpe de 64 e com alguns dos expoentes da linha-dura do regime militar que se seguiu, teve seu nome colocado em uma "lista negra" daqueles de quem não se devia falar (pelo menos não aberta e elogiosamente) dentro dos quarteis e instituições militares.

Falo do Marechal-do Ar Casimiro Montenegro Filho. Para aqueles não estão ligando o nome às realizações, basta lembrar que esse meu conterrâneo foi o criador do ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica) e do CTA (Centro Técnico Aeroespacial, hoje Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial). E que consegui esses intentos tendo que vencer a resistência do governo de então e de parte de seus companheiros de farda.

Ele foi objeto de várias biografias, sendo a mais conhecida a escrita por Fernando Morais com o título "Montenegro - As aventuras de um Marechal que fez uma revolução nos céus do Brasil ". Leitura agradável e muito esclarecedora sobre um pedaço da história de nosso país, mais especificamente a que vai do fim da 2ª Guerra até meados dos anos 60.

Nela fica claro o caráter obscurantista de diversos personagens que povoaram os quartéis e a política brasileira naquele período e um pouco além.

O patrono da Força Aérea Brasileira, brigadeiro Eduardo Gomes, é um que sai com a biografia bem chamuscada. Além de ter ideias políticas marcadas por um anti-comunismo exacerbado, que conseguia ver maquinações esquerdistas em pessoas e/ou movimentos apenas nacionalistas (ou nem isso), fica a imagem de alguém chegado a mesquinharias e que não conseguia enxergar o futuro nem mesmo em sua própria área de atuação. Por exemplo, se opunha firmemente ao trabalho que Montenegro realizava visando parcerias com industrias avançadas para desenvolver a fabricação de aviões a jato no Brasil, coisa que para Gomes não tinha futuro.

Se para medir a grandeza de um homem uma das formas é saber quem são seus inimigos, Montenegro está bem na foto. Além de Eduardo Gomes (que o perseguiu enquanto pode, até conseguir afastá-lo do ITA, no pós-Golpe), se alinhava entre seus adversários o famoso brigadeiro João Paulo Burnier, ultra-radical no espectro político responsável pelo planejamento do que ficou conhecido como Caso Para-SAR e, posteriormente, acusado de ser o responsável pela morte do militante Stuart Angel durante sessões de tortura.

É bem capaz que alguém aí venha dizer: "Mas o Fernando Morais é esquerdista, deve ter distorcido os fatos...".

Pois bem, também me deparei com esta resenha do livro feita pelo pesquisador Sued Castro Lima, que não por acaso é coronel-aviador da reserva, e na qual ele referenda a quase totalidade do conteúdo do livro.

Outro texto interessante sobre o mesmo tema é o escrito pelo engenheiro Armando Milioni, onde se lança alguma luz sobre as entranhas do ITA, especialmente durante a ditadura, mas também em dias mais próximos.

Neste dia 26 de fevereiro completam-se 10 anos da morte do Marechal Montenegro.

Ele permanece um ilustre desconhecido para a esmagadora maioria do nosso povo. Mesmo entre aqueles com um grau de instrução/informação acima da média dos brasileiros esse desconhecimento é marcante.

Por que será?

Talvez por ele ter apresentado uma visão de Brasil diferente da defendida por grande parte das nossas elites, que enxergavam quase nada além dos próprios interesses (frequentemente entreguistas). Ou talvez também porque, apesar de passar longe de ser um progressista na política (na verdade ele era bem conservador, apoiou os movimentos contra Getúlio, Juscelino e Jango), nunca participou ou concordou com perseguições tipo caça às bruxas, como as ocorridas no pós-64.



23 de fevereiro de 2010

Eles não tomam jeito (3)

Um dos países que mais constantemente desperta meu interesse é a Turquia. Nem sei exatamente por que. Não tenho laços de nenhum tipo com o país (pelo menos que eu saiba...), e a única razão que me passa pela cabeça é a História, uma das minhas paixões. A quantidade de eventos marcantes para a Humanidade que ocorreram naquela área é impressionante...

Dentro desse meu interesse uma coisa ressalta: muito frequentemente tenho posições nada lisonjeiras para com os governantes turcos, especialmente os dos últimos 300 anos. O tratamento dispensados às minorias e povos conquistados é, independente do tipo de governo e de sua posição política, deplorável. Armênios, curdos, gregos e árabes que o digam...

Todo esse tipo de problema se agravou incrivelmente a partir da chamada Revolução dos Jovens Turcos, em 1908, e que apesar de ter sido feita com supostos ideais liberais e democráticos (o mote era reinstalar a constituição que o sultão havia suspenso anos antes), na realidade descambou para um governo autoritário, centralizador e ultranacionalista. E teve o subproduto de trazer o Exército para dentro da política, de onde nunca mais saiu inteiramente.

Resultado? Com relação aos grupos étnicos, além do conhecido Genocídio dos Armênios (1915-1918), foram massacrados gregos, cristãos ciríacos e nestorianos e curdos. Talvez nunca saibamos o total de vítimas, mas as estimativas variam de 2 milhões até 4,3 milhões de mortos.

Com relação a política interna, após o longo governo de Kemal Ataturk (1923-1938), que estabilizou e modernizou o país, voltaram a ocorrer instabilidades. De lá para cá foram 4 golpes militares bem sucedidos e diversos outros que não tiveram êxito. Regra geral, as ações dos militares tem como desculpa a luta contra a corrupção e o combate a medidas mais liberais ou anti-seculares. Ou seja, mal escondem sua ideologia de direita e ultranacionalista.

Desde a posse em 2003 do atual primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan, do Partido da Justiça e Desenvolvimento, de linha islâmica moderada, várias conspirações militares foram descobertas e debeladas. A última foi esta destroçada esta semana.

Um grupo de 49 militares da ativa e da reserva, incluindo 17 generais e 4 almirantes, foi preso após longa investigação. Ligados a uma organização chamada Ergenekon, pretendiam desencadear ações terroristas para desestabilizar o governo e justificar uma intervenção das Forças Armadas .

Engraçado como o enredo quase nunca muda, qualquer que seja o país.

Esses caras realmente não tomam jeito...

15 de fevereiro de 2010

O que é ruim sempre pode piorar

Quase exatamente um ano atrás, falei aqui sobre a alta taxa de suicídios entre os membros das forças armadas americanas, que tinham atingido números recordes em 2008.

Pois bem, acabaram de sair os números preliminares de 2009. E a coisa piorou, e muito.

No total, o número passou 235 para 301 casos. E ainda existem outros episódios sendo investigados...

E se forem observados os números dos veteranos (soldados já fora do serviço ativo) a situação fica ainda mais estarrecedora: 20% do total de aproximadamente 30.000 suicídios que ocorrem a cada ano nos EUA são entre os veteranos.

Pra encerrar, sem delongas:

(Autor: Joel Pett, no Lexington Herald-Leader, via McClatchy)

11 de fevereiro de 2010

Ponto de inflexão na vida de dois homens

Nos últimos dias, algumas notícias me lembraram que certo episódio, envolvendo um negro pra lá de famoso, está completando hoje 20 anos.

O interessante é que, na minha cabeça, a data está entrelaçada também a outro acontecimento, também envolvendo outro negro bastante conhecido. Essa ligação entre os fatos solidificou-se na minha cabeça desde a época, tanto que toda vez que falava de um deles acabava citando, mesmo de passagem, o outro.

No final da madrugada e começo da manhã do dia 11 de fevereiro de 1990, eu e milhares de fanáticos por esporte estávamos de olho na telinha assistindo aquela que prometia ser outra fantástica (apesar de rapidíssíma) atuação de Mike Tyson nos ringues. Ele estava no Japão lutando contra o desconhecido James "Buster" Douglas, era favorito destacado, e quase todos acreditavam que ele venceria por nocaute ainda nos primeiros rounds. Douglas parecia o adversário perfeito para ser massacrado, e com isso ajudar a extender o domínio de Tyson na categoria dos pesos-pesados.

Mas aquele dia levava jeito de ter sido formatado pelo destino para desencadear mudanças em todos os níveis.

Desde antes do início da luta, os locutores vinham interrompendo a transmissão para falar do outro evento que marcaria aquele dia. Uma multidão de sul-africanos, a qual se juntava a imprensa mundial em peso, aguardava no lado de fora da Prisão Victor Verster, na Cidade do Cabo, pela provável (mas ainda incerta) libertação do líder negro Nelson Mandela.

A luta transcorreu de forma totalmente atípica (pelo menos para os padrões Mike Tyson até aquele momento). No começo, o campeão atacou naquele seu estilo rolo compressor, que costumava acabar a maioria das lutas em até 3 assaltos. Só que Douglas estava mais preparado do que aparentava, e Tyson, pelo contrário, estava mais disperso e vacilante que o normal. Não conseguia entrar na guarda do desafiante, que usava a maior altura para manter Tyson à distância, e castigá-lo como nunca anteriormente um adversário havia feito.

Enquanto isso a expectativa na Cidade do Cabo aumentava. Uma das coisas mais interessantes é que ninguém fazia ideia da aparência de Mandela, já que a última foto disponível dele era de mais de 25 anos antes. E a espera continuava...

A luta em Tóquio chegou ao 8º assalto, e pareceu que Tyson havia acordado. Desferiu uma ótima sequencia de golpes, encerrada por um potente cruzado de direita que derrubou Douglas, que só conseguiu se levantar quase no final da contagem do juiz. Tyson continuou a tentar encerrar a luta via nocaute durante o 9º assalto, mas sem sucesso.

Chegou o 10º assalto, e Douglas, refeito do castigo, partiu para cima do cansado Tyson, e com um cruzado seguido de uma sequencia rápida de golpes mandou o campeão para a lona.

Neste ponto, fico pensando qual a imagem mais marcante daquele dia. As duas ocorreram com poucos minutos de diferença e, cada uma a seu modo, retrataram instantes de mudança.

Primeiro foi a visão de Tyson tentando se levantar, mas com as pernas se recusando a obedecer, e com o protetor bucal escapulindo por entre seus lábios.

Depois, a imagem de Mandela saindo pelo portão principal da prisão, de mãos dadas com sua então esposa Winnie, e aclamado por uma multidão que explodia em gritos e lágrimas.

Daquele instante em diante, a carreira e a vida de Mike Tyson nunca mais foram as mesmas, até chegar ao que ele é atualmente: apenas uma nota de rodapé das colunas fofocas e das páginas policiais.

Já Mandela precisou de pouco mais de 4 anos para ser eleito Presidente de uma África do Sul livre das leis do apartheid, e continua até hoje a ser um símbolo da luta pela liberdade e um exemplo de político negociador.


****


Antes que eu esqueça: assistam "Invictus", de Clint Eastwood.

Morgan Freeman É Mandela.

Impressionante.


3 de fevereiro de 2010

Chavez falou besteira. De novo...

Um bom amigo vem insistindo desde a semana passada que eu escreva algo sobre a crise na Venezuela.

A falta de tempo para uma pesquisa mais adequada, e a constatação de que pessoas mais preparadas já disseram mais ou menos o que eu penso acabaram adiando o post.

Porém, existem fatos que praticamente obrigam você a escrever. Ou porque exigem um posicionamento rápido e firme, ou porque a piada pronta é inescapável...

Ainda estou em dúvida sobre qual das categorias acima melhor reflete isto aqui:

Chavez quer governar mais 11 anos e prevê 1800 anos de governo revolucionário

Sempre considerei que a Venezuela não está sob uma ditadura. Pelo menos ainda... Faltam alguns dos atributos da nossa velha conhecida de tantos séculos.

Entretanto, e apesar de não considerar Hugo Chavez a encarnação do mal absoluto, sempre pensei nele como um anteprojeto de ditador. Não faltaria vontade, apenas as condições, e talvez essas nunca venham a existir...

Claro, além de ele ser um bufão incorrigível e de uma incompetência basilar enquanto administrador.

Ponto. Parei.

Mas diante da notíca acima, e sem querer comparar os personagens, o primeiro pensamento que me veio foi:

Caramba, o último infeliz (imbecil, louco, pode escolher o adjetivo...) que falou em um governo de 1000 anos, deu no que deu...



***

Só agora me toquei que este é o post de número 250 do De Olho no Fato.
Não é nada, não é nada, já é uma vereda, com sonhos de virar estrada...

31 de janeiro de 2010

Mais uma baixa

Não resta dúvida: a blogosfera brasileira esta sofrendo uma verdadeira "limpeza étnica", tanto quantitativa quanto (e especialmente) qualitativa.

Alguns dos seus melhores quadros estão abandonando o barco, ou pelo menos dando um tempo, sem prazo pra voltar. E não é de hoje... Mesmo os que retornaram, como o Pedro Doria, o fizeram em um esquema diferente, com outro enfoque de temas.

O mais recente caso é o Hermenauta, que anunciou, ao atingir 1 milhão de acessos, que está suspendendo a atualização do seu blog, alegando motivos profissionais e pessoais (ele e a madame Hermenauta estão encomendando o primeiro herdeiro).

Dos caras realmente conhecidos na blogosfera brasileira, ele é um dos que mais admiro e um dos raríssimos que tive a chance de conhecer pessoalmente. Dizer que ele é uma grande figura não expressa com clareza tudo o que ele é.

No início deste potencialmente explosivo ano eleitoral, o setor mais progressista daqueles que circulam diariamente pela grande rede em nosso país ficaram privados de uma de suas mais incisivas vozes.

Resta-me dizer duas coisa.

Primeiro: Valeu, Hermê. E quando bater a saudade, apareça na velha casa ou na dos amigos.

Segundo: Volta, Idelber. A briga vai ser feia...



17 de janeiro de 2010

Uma resposta legal e uma notícia ainda mais legal

A Cyntia, do Cyn City, traduziu uma boa resposta às besteiras que o Pat Robertson falou,sobre o Haiti, escrita por uma americana e enviada ao Star-Tribune, de Minneapolis.

No bem-humorado texto, é como se o Diabo em pessoa respondesse à Robertson.

Eis a tradução:

Querido Pat Robertson,

Eu sei que você sabe que qualquer publicidade é boa publicidade, então deixe-me dizer, antes de qualquer outra coisa, que eu apreciei o comercial. E você fez Deus parecer um babaca cruel, que chuta as pessoas quando elas já estão no chão, então achei bem legal.

Mas quando você diz que o Haiti fez um pacto comigo, aí a coisa muda de figura : fica totalmente humilhante pra mim. Eu posso ser a encarnação do Mal, mas não sou nenhum moleque. Do jeito que você colocou a coisa, ficou parecendo que um pacto comigo deixa as pessoas desesperadas e empobrecidas. Tá bom, claro que deixa, mas só no além. É bom lembrar que quando eu faço um trato com as pessoas, primeiro elas ganham alguma coisa aqui na Terra : glamour, beleza, talento, dinheiro, fama, glória, um violino de ouro. Os haitianos não têm nada, e eu quero dizer nada mesmo. E já não tinham desde antes do terremoto. Você nunca assistiu a “Crossroads” ? Ou “Malditos Yankees” ? Se eu tivesse algum negócio rolando com o Haiti, pode acreditar que eles teriam montes de bancos, arranha-céus, SUVs, boates exclusivas, botox – esse tipo de coisa. Um índice de pobreza de 80% não é meu estilo, não mesmo. Nada contra, só estou dizendo : não é assim que eu trabalho.

Você vem fazendo um excelente trabalho, Pat, e eu não quero cortar suas asinhas, mas peraí, assim você me deixa mal na foto. E não quero dizer “mal” do jeito bom. Continue culpando Deus, tudo bem. Isso funciona. Mas me deixe fora disso, por favor. Do contrário, posso ser obrigado a rever seu contrato comigo.

Boa sorte

Satã.

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Pra compensar uma semana carregada como esta, um boa notícia: finalmente notei que o excelente site Um Que Tenha voltou ao ar. Ele havia sido fechado por uma ação dos representantes da gravadoras por facilitar o download de álbuns musicais.

Não qualquer álbum: o melhor da música brasileira e alguns (poucos) álbuns internacionais de excelente qualidade.

Eu tinha linkado o site no post sobre a Massafeira, e depois deixei um aviso sobre o fechamento.

Bem, ele voltou (já faz tempo, desde setembro, o babaca aqui é que não tinha notado...).

Façam bom, excelente uso.

15 de janeiro de 2010

Haiti: um país posto de joelhos

O desastre imensurável que se abateu sobre o Haiti supera qualquer tipo de racionalização que se possa tentar.

Um país que ainda vinha lutando para se reerguer de uma série de tragédias naturais e humanas que o assolaram por décadas sofreu um golpe da natureza que beira a crueldade, se é que podemos usar essa expressão.

É obrigação de todos os governos do mundo (pelo menos os que tiverem alguma mínima condição) ajudar o Haiti e seu povo.

Mas não dá para nós, simples cidadãos, ficarmos só olhando. A hora de colaborar é agora.

Eis algumas contas bancárias abertas para as doações:

Embaixada do Haiti no Brasil
Banco do Brasil
Agência 1606-3
Conta corrente 91.000-7
CNPJ 04170237/0001-71

Cruz Vermelha
HSBC
Agência 1276
Conta corrente 14526-84
CNPJ 04359688/0001-51

Viva Rio
Banco do Brasil
Agência 1769-8
Conta corrente 5113-6
CNPJ 00343941/0001-28

Care Internacional Brasil
Banco Real-Santander
Agência 0373
Conta corrente 5756365-0
CNPJ 04180646/0001-59

Pastoral da Criança
HSBC
Agência 0058
Conta Corrente 12.345-53
CNPJ 00.975.471/0001-15

14 de janeiro de 2010

A Comissão da Verdade: um depoimento emocionado

De tudo que li sobre a já famosa Comissão da Verdade, transcrevo o pungente texto da jornalista Hildegard Angel, publicado no Jornal do Brasil em 08/01/2010.


Quem tem medo da verdade?

CHEGA UMA hora em que não aguento, tenho que falar. Já que quem deveria falar não fala, ou porque se cansou do combate ou porque acomodou-se em seus novos empregos... POIS BEM: é impressionante o tiroteio de emails de gente da direita truculenta, aqueles que se pensava haviam arquivado os coturnos, que despertam como se fossem zumbis ressuscitados e vêm assombrar nosso cotidiano com elogios à ação sanguinária dos ditadores, os quais torturaram e mataram nos mais sórdidos porões deste país, com instrumentos de tortura terríveis, barbaridades medievais, e trucidaram nossos jovens idealistas, na grande maioria universitários da classe média, que se viram impedidos, pelos algozes, de prosseguir seus estudos nas escolas, onde a liberdade de pensamento não era permitida, que dirá a de expressão!... E AGORA, com o fato distante, essas múmias do passado tentam distorcer os cenários e os personagens daquela época, repetindo a mesma ladainha de demonização dos jovens de esquerda, classificando-os de “terroristas”, quando na verdade eram eles que aterrorizavam, torturavam, detinham o canhão, o poder, e podiam nos calar, proibir, censurar, matar, esquartejar e jogar nossos corpos, de nossos filhos, pais, irmãos, no mar... E MENTIAM, mentiam, mentiam, não revelando às mães sofredoras o paradeiro de seus filhos ou ao menos de seus corpos. Que história triste! Eles podiam tudo, e quem quisesse reclamar que fosse se queixar ao bispo... ELES TINHAM para eles as melhores diretorias, nas empresas públicas e privadas, eram praticamente uma imposição ao empresariado — coitado de quem não contratasse um apadrinhado — e data daquela época esse comportamento distorcido e desonesto, de desvios e privilégios, que levou nosso país ao grau de corrupção que, só agora, com liberdade da imprensa, para denunciar, da Polícia Federal, para apurar, do MP, para agir, nos é revelado...

DE MODO cínico, querem comparar a luta democrática com a repressão, em que liberdade era nenhuma, e tentam impedir a instalação da Comissão da Verdade e Justiça, com a conivência dos aliados de sempre... QUEREM COMPARAR aqueles que perderam tudo — os entes que mais amavam, a saúde, os empregos, a liberdade e, alguns, até o país — com aqueles que massacraram e jamais responderam por isso.

Um país com impunidade gera impunidade. A história estará sempre fadada a se repetir, num país permissivo, que não exerce sua indignação, não separa o trigo do joio... TODOS OS países no mundo onde houve ditadura constituíram comissões da Verdade e Justiça. De Portugal à Espanha, passando por Chile, Grécia, Uruguai, Bolívia e Argentina, que agora abre seus arquivos daqueles tempos, o que a gente, aqui, até hoje não conseguiu fazer... QUE MEDO é esse de se revelar a Verdade? Medo de não poderem mais olhar para seus próprios filhos? Ou medo de não poderem mais se olhar no espelho?...



5 de janeiro de 2010

Olha ali um "projeto" voando...

Quem deu uma lida nos portais de notícias deve ter visto a notícia que falava da preferência da FAB pelo avião sueco Saab Gripen NG na concorrência para aquisição do novo caça para suprir a defesa aérea brasileira, deixando para trás o americano F-18 e o francês Rafale, nesta ordem.

Quem detonou o assunto foi a repórter Eliane Catanhêde, da Folha, neste artigo, onde ressaltava que a cúpula do governo é favorável ao caça francês, o que criaria um tremendo abacaxi a ser descascado por Lula. (Os sem-Folha podem ler aqui.)

Lá no meio do artigo, a jornalista diz que o caça sueco está "ainda em fase de projeto". Esse mesmo tipo de afirmação eu já havia visto em diversos outros órgãos de imprensa e sites.

Pois não é que esse deve ser um daqueles raros casos de "projeto" que voa?

Dando uma lida no blog Poder Aéreo (para os interessados em aviação militar, um prato cheio) encontrei isto aqui:



Nada menos que um Gripen NG decolando e, pasmem, com dois oficiais da FAB nos comandos.

Para algo que é apenas um projeto, até que ele vai muito bem, não concordam?

Ah! A nossa imprensa...


P.S. Recomendo também a leitura deste post do Poder Aéreo, que coloca algumas observações pra lá de pertinentes sobre o tema e a nossa política interna.