15 de março de 2010

25 anos de liberdade

Hoje, 15 de Março, completam-se 25 anos do fim oficial daquela que esperamos tenha sido a última ditadura que governou o Brasil.

Digo governou, mas poderia ter usado muitos outros termos: oprimiu, infelicitou, aterrorizou, silenciou, castrou, desorientou, ...

Apesar de em seus anos finais ela ter sido claramente menos cruel do que em seu período mais negro, entre 1968 e 1976 (os anos de chumbo), não deixa de ser meio surpreendente que tenha durado tanto tempo, vinte e um longos anos.

Sobre isso, lembro de uma conversa que tive meses antes da Anistia, com um bom amigo, velho combatente contra o arbítrio, que saiu-se com essa comparação:

- Cara, os nazistas ficaram 12 anos no poder, e foi preciso uma guerra daquelas para derrotá-los. Os milicos daqui já estão mandando a quase 15 anos... Os caras são duros de roer...

Desde aquele 15 de Março de 1985, a nossa democracia consolidou-se, com as amplas liberdades públicas que hoje desfrutamos.

Mas talvez naquele exato dia estejam as sementes dos problemas que hoje enfrentamos em nossa estrutura política. O que poderia ter sido um ponto de partida para mudanças amplas e profundas acabou sendo um bocado de "mais do mesmo".

Esperar Tancredo e receber Sarney foi um choque que demorou para ser verdadeiramente assimilado e processado. As influências disso na Constituição de 88 e no restante da nossa organização político-partidária são claros, exigindo reformas urgentes.

Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula.

Tão diferentes entre si, mas todos eles sem vontade ou sem poder para romper certos vícios. E todos tendo em comum raízes na luta política do tempo da ditadura, quaisquer que fossem os lados em que estivessem.

A eleição de 2010 não deverá produzir nada diferente, já que os dois principais candidatos começaram a vida política na luta contra o antigo regime.

Ou seja, para o bem ou para o mal, aquele tempo negro onde a força fez o mal que a força sempre faz continuará deixando seus rastros.

Quem sabe daqui a alguns anos ela não será mais do que uma lembrança ruim, um sonho mau que não assustará nem um pouco, e o país discutirá seus problemas sem se medir por réguas ultrapassadas.

Um comentário:

Ricardo Cabral disse...

O país melhorou bastante em alguns aspectos, Luiz, mas é verdadeiramente urgente que se dê uma reforma política profunda. Esse esquema do PMDB como (bem mais do que) fiel da balança da governabilidade não pode mais continuar, embora eu seja cético sobre quando e até que ponto essas mudanças ocorrerão.

Abs