Quando se fala em 11 de setembro, quase qualquer pessoa no mundo automaticamente pensa nos atentados de 2001 contra alvos americanos e que deixaram cerca de 4.000 mortos. Foi o ato brutal que, de fato, iniciou o novo século, e junto com ele uma nova fase de medo, ódio e desconfiança, tudo misturado, entre o Ocidente e parte do Oriente. Papo pra outra hora.
Para grande parte dos latino-americanos com mais de 40 anos, porém, a data, antes de 2001, era lembrada por outra tragédia, que provocou um número bem superior de mortos (cálculos variam de 15.000 a 30.000), e marcou de maneira indelével a história do Chile, em particular, e da América Latina como um todo.
Claro que estou falando do infame
golpe militar que, com o apoio e colaboração dos Estados Unidos, derrubou em 1973 o governo legitimamente eleito do socialista
Salvador Allende, que liderava uma coalizão de forças de esquerda, e que acabou vindo a falecer em circunstâncias ainda não totalmente esclarecidas. Pode ter sido suicídio (provável) ou assassinato. Talvez nunca tenhamos certeza.
Além dos democratas chilenos de todos os matizes, a repressão assassina executada pelos comandados daquele cujo nome me recuso a escrever buscou atingir o grande número de cidadãos de outros países que tinham buscado refúgio no Chile fugindo das ditaduras de seus respectivos países. Muitos pagaram com a vida. Milhares tiveram que fugir às pressas.
Domingo passado, assistindo o jogo da seleção brasileira em Santiago, a lembrança do campo de concentração em que se tornou o Estádio Nacional me turvou a vista.
Hoje completam-se 35 anos daquele dia trágico. As cicatrizes ainda não fecharam por completo, apesar dos novos tempos vividos pelo país andino e por quase todo o continente, e é dever de todos os amantes da liberdade não deixar que essa data seja esquecida, como um alerta contra o facismo obscurantista e sanguinário.

P.S. Ia esquecendo: de maneira indireta, o golpe apressou a morte do genial
Pablo Neruda.