Nos últimos dias, algumas notícias me lembraram que certo episódio, envolvendo um negro pra lá de famoso, está completando hoje 20 anos.
O interessante é que, na minha cabeça, a data está entrelaçada também a outro acontecimento, também envolvendo outro negro bastante conhecido. Essa ligação entre os fatos solidificou-se na minha cabeça desde a época, tanto que toda vez que falava de um deles acabava citando, mesmo de passagem, o outro.
No final da madrugada e começo da manhã do dia 11 de fevereiro de 1990, eu e milhares de fanáticos por esporte estávamos de olho na telinha assistindo aquela que prometia ser outra fantástica (apesar de rapidíssíma) atuação de Mike Tyson nos ringues. Ele estava no Japão lutando contra o desconhecido James "Buster" Douglas, era favorito destacado, e quase todos acreditavam que ele venceria por nocaute ainda nos primeiros rounds. Douglas parecia o adversário perfeito para ser massacrado, e com isso ajudar a extender o domínio de Tyson na categoria dos pesos-pesados.
Mas aquele dia levava jeito de ter sido formatado pelo destino para desencadear mudanças em todos os níveis.
Desde antes do início da luta, os locutores vinham interrompendo a transmissão para falar do outro evento que marcaria aquele dia. Uma multidão de sul-africanos, a qual se juntava a imprensa mundial em peso, aguardava no lado de fora da Prisão Victor Verster, na Cidade do Cabo, pela provável (mas ainda incerta) libertação do líder negro Nelson Mandela.
A luta transcorreu de forma totalmente atípica (pelo menos para os padrões Mike Tyson até aquele momento). No começo, o campeão atacou naquele seu estilo rolo compressor, que costumava acabar a maioria das lutas em até 3 assaltos. Só que Douglas estava mais preparado do que aparentava, e Tyson, pelo contrário, estava mais disperso e vacilante que o normal. Não conseguia entrar na guarda do desafiante, que usava a maior altura para manter Tyson à distância, e castigá-lo como nunca anteriormente um adversário havia feito.
Enquanto isso a expectativa na Cidade do Cabo aumentava. Uma das coisas mais interessantes é que ninguém fazia ideia da aparência de Mandela, já que a última foto disponível dele era de mais de 25 anos antes. E a espera continuava...
A luta em Tóquio chegou ao 8º assalto, e pareceu que Tyson havia acordado. Desferiu uma ótima sequencia de golpes, encerrada por um potente cruzado de direita que derrubou Douglas, que só conseguiu se levantar quase no final da contagem do juiz. Tyson continuou a tentar encerrar a luta via nocaute durante o 9º assalto, mas sem sucesso.
Chegou o 10º assalto, e Douglas, refeito do castigo, partiu para cima do cansado Tyson, e com um cruzado seguido de uma sequencia rápida de golpes mandou o campeão para a lona.
Neste ponto, fico pensando qual a imagem mais marcante daquele dia. As duas ocorreram com poucos minutos de diferença e, cada uma a seu modo, retrataram instantes de mudança.
Primeiro foi a visão de Tyson tentando se levantar, mas com as pernas se recusando a obedecer, e com o protetor bucal escapulindo por entre seus lábios.
Depois, a imagem de Mandela saindo pelo portão principal da prisão, de mãos dadas com sua então esposa Winnie, e aclamado por uma multidão que explodia em gritos e lágrimas.
Daquele instante em diante, a carreira e a vida de Mike Tyson nunca mais foram as mesmas, até chegar ao que ele é atualmente: apenas uma nota de rodapé das colunas fofocas e das páginas policiais.
Já Mandela precisou de pouco mais de 4 anos para ser eleito Presidente de uma África do Sul livre das leis do apartheid, e continua até hoje a ser um símbolo da luta pela liberdade e um exemplo de político negociador.
****
Antes que eu esqueça: assistam "Invictus", de Clint Eastwood.
Morgan Freeman É Mandela.
Impressionante.
O interessante é que, na minha cabeça, a data está entrelaçada também a outro acontecimento, também envolvendo outro negro bastante conhecido. Essa ligação entre os fatos solidificou-se na minha cabeça desde a época, tanto que toda vez que falava de um deles acabava citando, mesmo de passagem, o outro.
No final da madrugada e começo da manhã do dia 11 de fevereiro de 1990, eu e milhares de fanáticos por esporte estávamos de olho na telinha assistindo aquela que prometia ser outra fantástica (apesar de rapidíssíma) atuação de Mike Tyson nos ringues. Ele estava no Japão lutando contra o desconhecido James "Buster" Douglas, era favorito destacado, e quase todos acreditavam que ele venceria por nocaute ainda nos primeiros rounds. Douglas parecia o adversário perfeito para ser massacrado, e com isso ajudar a extender o domínio de Tyson na categoria dos pesos-pesados.
Mas aquele dia levava jeito de ter sido formatado pelo destino para desencadear mudanças em todos os níveis.
Desde antes do início da luta, os locutores vinham interrompendo a transmissão para falar do outro evento que marcaria aquele dia. Uma multidão de sul-africanos, a qual se juntava a imprensa mundial em peso, aguardava no lado de fora da Prisão Victor Verster, na Cidade do Cabo, pela provável (mas ainda incerta) libertação do líder negro Nelson Mandela.
A luta transcorreu de forma totalmente atípica (pelo menos para os padrões Mike Tyson até aquele momento). No começo, o campeão atacou naquele seu estilo rolo compressor, que costumava acabar a maioria das lutas em até 3 assaltos. Só que Douglas estava mais preparado do que aparentava, e Tyson, pelo contrário, estava mais disperso e vacilante que o normal. Não conseguia entrar na guarda do desafiante, que usava a maior altura para manter Tyson à distância, e castigá-lo como nunca anteriormente um adversário havia feito.
Enquanto isso a expectativa na Cidade do Cabo aumentava. Uma das coisas mais interessantes é que ninguém fazia ideia da aparência de Mandela, já que a última foto disponível dele era de mais de 25 anos antes. E a espera continuava...
A luta em Tóquio chegou ao 8º assalto, e pareceu que Tyson havia acordado. Desferiu uma ótima sequencia de golpes, encerrada por um potente cruzado de direita que derrubou Douglas, que só conseguiu se levantar quase no final da contagem do juiz. Tyson continuou a tentar encerrar a luta via nocaute durante o 9º assalto, mas sem sucesso.
Chegou o 10º assalto, e Douglas, refeito do castigo, partiu para cima do cansado Tyson, e com um cruzado seguido de uma sequencia rápida de golpes mandou o campeão para a lona.
Neste ponto, fico pensando qual a imagem mais marcante daquele dia. As duas ocorreram com poucos minutos de diferença e, cada uma a seu modo, retrataram instantes de mudança.
Primeiro foi a visão de Tyson tentando se levantar, mas com as pernas se recusando a obedecer, e com o protetor bucal escapulindo por entre seus lábios.
Depois, a imagem de Mandela saindo pelo portão principal da prisão, de mãos dadas com sua então esposa Winnie, e aclamado por uma multidão que explodia em gritos e lágrimas.
Daquele instante em diante, a carreira e a vida de Mike Tyson nunca mais foram as mesmas, até chegar ao que ele é atualmente: apenas uma nota de rodapé das colunas fofocas e das páginas policiais.
Já Mandela precisou de pouco mais de 4 anos para ser eleito Presidente de uma África do Sul livre das leis do apartheid, e continua até hoje a ser um símbolo da luta pela liberdade e um exemplo de político negociador.
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Antes que eu esqueça: assistam "Invictus", de Clint Eastwood.
Morgan Freeman É Mandela.
Impressionante.
4 comentários:
As conquistas de Nelson Mandela são espetaculares. E nem precisamos ir muito longe.
Dentro da própria prisão ele conseguiu que todos os guardas chamassem todos os presos pelo tratamento mais nobre: Senhor.
Eu me lembro de um concerto, provavelmente em Londres, que no final dos anos 80 reuniu os artistas mais relevantes da época. Era o concerto por Mandela, ou algo assim, que pedia, obviamente, por sua libertação.
Só mesmo uma figura fundamental tem poder pra gerar uma reação desse tipo.
Um homem que passou quase toda a sua vida preso por um regime racista e que, depois de libertado, deixando de lado o rancor e o sentimento de vingaça que seriam plenamente compreensíveis, conclama seu povo à resistência pacífica e à negociação, não se encontra com facilidade por aí.
Mandela foi o grande nome da política mundial no último quartel (juro, saiu sem querer) do século XX.
E Morgan Freeman é sempre impressionante.
Ótimo assunto! Esse e o do Montenegro.
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