3 de abril de 2010

Futebol e Religião: favor não misturar...

... pois a chance de idiotices colossais é enorme.

Aqui quem vos fala é um fã inveterado de futebol, e que tem uma fé (alguns leitores sabem qual é, mas nesse momento não faz a menor diferença...), e que acredita piamente na liberdade religiosa plena, mas também no Estado radicalmente laico (já falei disso anteriormente).

Tempos atrás, a FIFA expressou a intenção de restringir demonstrações religiosas exageradas dentro dos campos de futebol. Alegou a necessidade de respeito aos diferentes credos (até podemos duvidar da explicação, que provavelmente esconde outro tipo de motivação, mas vá lá que seja...) .

Concordo totalmente. O fato de que todo atleta (aliás, todo ser humano...) tem o direito de professar ou não qualquer tipo de crença religiosa não dá a eles o direito de usar os eventos esportivos como palco de manifestações religiosas, muitas vezes com o mal disfarçado intuito de proselitismo.

A seleção brasileira, já de muito tempo, tornou-se reincidente específica e genérica nesse tipo de atitude. Quantas vezes não vimos os jogadores se reunirem no centro do gramado, após alguma conquista, e se ajoelharem para rezar, em um espetáculo totalmente destoante com a ocasião. À boca miúda, se fala de uma verdadeira patrulha ideológica dentro do elenco (exercida por alguns praticantes de vertentes mais sectárias), com alguns jogadores sendo "isolados" em função de sua fé ou da falta dela.

Na tarde da última quinta-feira, ocorreu um episódio que, apesar de não ter ocorrido dentro de campo, é reflexo de tudo o que expus acima.

O elenco do Santos Futebol Clube (time pelo qual torço em escala nacional) foi informado pela diretoria do clube que compareceriam ao Lar Espírita Mensageiros da Luz, instituição que cuida de portadores de Paralisia Cerebral, crianças e jovens. Quando o ônibus do clube chegou à porta da instituição, alguns jogadores se recusaram a descer, alegando incompatibilidade religiosa.

Não é de hoje que o Santos tem problemas internos causados (ou ampliados) por grupos de jogadores pertencentes à certos grupos religiosos mais intransigentes (preciso explicar?). Tanto que a atual diretoria, quando assumiu, baixou uma norma de conduta de conduta para os jogadores visando evitar (ou pelo menos reduzir) problemas. Parece que não funcionou. Tanto que aconteceu o que acima descrevi. A repercussão vem sendo enorme na mídia esportiva (se bem que parte dela se aproveitou do fato e tentou manchar a história do clube) e na torcida, que espera uma atitude firme da diretoria.

O fato de ser uma instituição com administração religiosa (independente do credo, ou da ostensiva ausência de um) não significa rigorosamente NADA. O que conta é que ela cuida de seres humanos que enfrentam uma cruel e incapacitante situação, e que precisam e merecem todo o tipo de ajuda e atenção. Deixar que qualquer tipo de posicionamento religioso se coloque como obstáculo é mostra de falta de humanidade, para dizer pouco.

Felizmente alguns jogadores já reconheceram o erro, pediram desculpas publicamente e se prontificaram a visitar a instituição. Menos mal. Agora é achar o cérebro dessa idiotice sem tamanho que envergonhou profundamente todos os santistas minimamente esclarecidos, e cuidar para que esse tipo de fato não se repita.

Voltando ao que tratamos no início: liberdade religiosa, sim; aproveitar-se de eventos públicos, não; deixar a religião tolher o humanismo, jamais.


3 comentários:

Robertão disse...

esse ignorancia desses jogadores expande bastante o termo paralisia cerebral...

nada será como antes disse...

O enfoque deste texto é acertado, porque realmente o mais importante, no caso, é o atendimento dos necessitados.

Cada vez mais, concepções religiosas confluem para algo similar às torcidas uniformizadas.

Anrafel disse...

De um lado, Adriano e Vágner Love e suas relações perigosas com traficantes de drogas e (provavelmente) armas, em apoio público e festivo a ceifadores de vidas.

Do outro, boleiros que se recusam a visitar uma entidade de apoio a quem sofre de doença tão cruel em nome da incompatibilidade com uma crença que eles certamente nem sabem direito do que se trata. A ignorância se confundindo com a crueldade.

Queira Deus que nossas crianças e adolescentes só procurem se espelhar nesses caras em relação ao futebol jogado por alguns. E eu acredito que o que acontece seja isso mesmo.