Um dia desses, indo para o trabalho, ouvi no rádio o locutor afirmar que aquele era o Dia do Avô. Fiquei em dúvida se era isso mesmo, até porque não vi nenhuma outra menção ao assunto na mídia durante o dia.
De todo modo, desde lá fiquei com um pensamento recorrente: o que exatamente é ser avô.
Particularmente, quanto a esse tema, vivo em um certo limbo. Ainda não sou avô, se bem que já poderia ser (minha filha mais velha vai completar 24 anos e o do meio vai fazer 18 semana que vem...). E quanto aos meus avós, tive menos contato do que gostaria, pelo menos em 3/4 dos casos.
Explicando: os dois avós homens faleceram bem antes de meus pais se conhecerem. O avô paterno, de quem herdei o nome, foi levado pelo que provavelmente foi um dos últimos surtos de Gripe Espanhola, bem no início dos anos 40. E o avô materno, seu Júlio, que passou grande parte da vida administrando a construção de barragens sertão a dentro, viveu até o início dos anos 50, quando o que suspeito ter sido um câncer de pulmão o levou.
Quanto às avós, conheci as duas, mas em circunstâncias bastante diferentes. A avó paterna, Dona Cristina, morava no interior, em uma pequena cidade às margens do Rio Jaguaribe chamada Itaiçaba (esse nome já apareceu neste blog, procurem).
Aliás, esta semana, vendo as notícias da tragédia provocada pelas chuvas em Santa Catarina, lembrei de como Itaiçaba era vulnerável às enchentes. Várias vezes durante minha infância e adolescência ocorreram grandes inundações, com a água atingindo 5 ou 6 metros no centro da cidade (isso quer dizer mais de 10 metros acima do nível normal do rio).
Mas voltando à minha avó, tenho fotos de visitas que fizemos a ela quando eu tinha cerca de 1 anos de idade, e pude travar contato com a vida no interior, correndo atrás de bichos, andando de carroça, e por aí vai... Infelizmente, ela faleceu quando eu tinha apenas 3 anos, e por isso o contato foi muito limitado.
Quanto à avó materna, bem, a história é completamente diferente. Por um daqueles desencontros que a vida apresenta para todos nós, meus pais se separaram antes de eu completar 2 anos. e minha mãe voltou a morar na casa de minha avó. Resultado: desde então, e até o falecimento dela no meio da minha adolescência, Dona Júlia (esse nome...) foi presença marcante.
E olha que ela não foi aquele tipo de avó totalmente complacente com as atitudes do neto. Uma vida incrivelmente cheia de acontecimentos marcantes e dolorosos (acreditem, até hoje me arrependo de não ter gravado um depoimento dela) fez com que ela se tornasse uma mulher muito austera e ciosa de sua autoridade. Mas eu era o neto que morava com ela, logo tinha minhas regalias em relação às dezenas (isso mesmo, dezenas) de primos e primas que nos visitavam constantemente.
Só à guisa de exemplo: lembro perfeitamente quando, aos 5 ou 6 anos, pedi que ela me explicasse o que era o Jogo do Bicho (apesar de católica fervorosa, ela não abria mão de uma aposta de vez em quando). Ela fez melhor: explicou o jogo em linhas gerais, chamou o bicheiro que passava todo dia em nossa rua, e mandou que eu fizesse uma "fezinha". Não sei de quanto foi a aposta, nem lembro os números (acho que foi o da casa, mas não tenho certeza), mas não é que eu acertei na centena? Sei que o prêmio acabou ajudando minha mãe a pagar umas contas, minha avó comprar uns remédios, e para mim rendeu umas roupas novas e uns brinquedos.
Em outras palavras, aquela casa era mais ou menos o que o dito popular que usei como título deste post expressa: "casa de avó, chiqueiro de neto".
E volto à pergunta do início, porém sobre um ângulo mais pessoal: como serei eu como avô?
Bem, uma pista para a resposta está dentro de casa. Afinal de contas, quando se tem uma filha caçula bem mais nova do que os demais, e você está em uma idade em que netos já são uma possibilidade palpável, corre-se o risco de virar um pai-avô (o inverso é um avohai, como imortalizou Zé Ramalho...). Tem que se ter cuidado para a autoridade de pai não se esvair e a coisa degringolar...
Outra pista vem dos meus sobrinhos, diretos e indiretos. Sabem aquele tipo de tio meio palhaço, que quem todos gostam e com quem todos tem uma história interessante para contar? Pois esse sou eu.
Resumindo, tenho quase certeza que serei aquele avô totalmente contraproducente em termos de autoridade. Meus filhos é que dêem seu jeito...
De todo modo, desde lá fiquei com um pensamento recorrente: o que exatamente é ser avô.
Particularmente, quanto a esse tema, vivo em um certo limbo. Ainda não sou avô, se bem que já poderia ser (minha filha mais velha vai completar 24 anos e o do meio vai fazer 18 semana que vem...). E quanto aos meus avós, tive menos contato do que gostaria, pelo menos em 3/4 dos casos.
Explicando: os dois avós homens faleceram bem antes de meus pais se conhecerem. O avô paterno, de quem herdei o nome, foi levado pelo que provavelmente foi um dos últimos surtos de Gripe Espanhola, bem no início dos anos 40. E o avô materno, seu Júlio, que passou grande parte da vida administrando a construção de barragens sertão a dentro, viveu até o início dos anos 50, quando o que suspeito ter sido um câncer de pulmão o levou.
Quanto às avós, conheci as duas, mas em circunstâncias bastante diferentes. A avó paterna, Dona Cristina, morava no interior, em uma pequena cidade às margens do Rio Jaguaribe chamada Itaiçaba (esse nome já apareceu neste blog, procurem).
Aliás, esta semana, vendo as notícias da tragédia provocada pelas chuvas em Santa Catarina, lembrei de como Itaiçaba era vulnerável às enchentes. Várias vezes durante minha infância e adolescência ocorreram grandes inundações, com a água atingindo 5 ou 6 metros no centro da cidade (isso quer dizer mais de 10 metros acima do nível normal do rio).
Mas voltando à minha avó, tenho fotos de visitas que fizemos a ela quando eu tinha cerca de 1 anos de idade, e pude travar contato com a vida no interior, correndo atrás de bichos, andando de carroça, e por aí vai... Infelizmente, ela faleceu quando eu tinha apenas 3 anos, e por isso o contato foi muito limitado.
Quanto à avó materna, bem, a história é completamente diferente. Por um daqueles desencontros que a vida apresenta para todos nós, meus pais se separaram antes de eu completar 2 anos. e minha mãe voltou a morar na casa de minha avó. Resultado: desde então, e até o falecimento dela no meio da minha adolescência, Dona Júlia (esse nome...) foi presença marcante.
E olha que ela não foi aquele tipo de avó totalmente complacente com as atitudes do neto. Uma vida incrivelmente cheia de acontecimentos marcantes e dolorosos (acreditem, até hoje me arrependo de não ter gravado um depoimento dela) fez com que ela se tornasse uma mulher muito austera e ciosa de sua autoridade. Mas eu era o neto que morava com ela, logo tinha minhas regalias em relação às dezenas (isso mesmo, dezenas) de primos e primas que nos visitavam constantemente.
Só à guisa de exemplo: lembro perfeitamente quando, aos 5 ou 6 anos, pedi que ela me explicasse o que era o Jogo do Bicho (apesar de católica fervorosa, ela não abria mão de uma aposta de vez em quando). Ela fez melhor: explicou o jogo em linhas gerais, chamou o bicheiro que passava todo dia em nossa rua, e mandou que eu fizesse uma "fezinha". Não sei de quanto foi a aposta, nem lembro os números (acho que foi o da casa, mas não tenho certeza), mas não é que eu acertei na centena? Sei que o prêmio acabou ajudando minha mãe a pagar umas contas, minha avó comprar uns remédios, e para mim rendeu umas roupas novas e uns brinquedos.
Em outras palavras, aquela casa era mais ou menos o que o dito popular que usei como título deste post expressa: "casa de avó, chiqueiro de neto".
E volto à pergunta do início, porém sobre um ângulo mais pessoal: como serei eu como avô?
Bem, uma pista para a resposta está dentro de casa. Afinal de contas, quando se tem uma filha caçula bem mais nova do que os demais, e você está em uma idade em que netos já são uma possibilidade palpável, corre-se o risco de virar um pai-avô (o inverso é um avohai, como imortalizou Zé Ramalho...). Tem que se ter cuidado para a autoridade de pai não se esvair e a coisa degringolar...
Outra pista vem dos meus sobrinhos, diretos e indiretos. Sabem aquele tipo de tio meio palhaço, que quem todos gostam e com quem todos tem uma história interessante para contar? Pois esse sou eu.
Resumindo, tenho quase certeza que serei aquele avô totalmente contraproducente em termos de autoridade. Meus filhos é que dêem seu jeito...
4 comentários:
Grande Luiz,
Desconfio que serás um avô que os netos vão adorar.
Como bem disseste, que os filhos resolvam depois o que você desconstruir. Mas desconstrua sim, é esse o melhor papel dos avôs.
Abraços
Fui avó com 43 anos hoje ele tem quase 8 anos.
Meu filho mais velho me deu esse presente.
Infelizmente, ele mora no RS e só vem nas férias.
É EXATAMENTE o que você diz, a gente mima, mima e não se cansa de mimar.
O pai se equilibra naquela corda-bamba entre regrar ou liberar, exercer a autoridade ou condescender, soltar a verba (como diz meu filho) ou deixar passar a pão com mortadela.
O avô joga isso pro alto; o menino com ele é hora do recreio.
(Mas, como nem tudo é perfeito, tem uns sacaninhas que percebem isso cedo e deitam na sopa. Aí o pai tem que regrar e exercer a autoridade).
Olá Luiz.
Nesta questão de avós, dive a felicidade de conviver e muito com todos eles.
Quando dos encontros de familia, primos ficam admirados das historias que conto que ocorreram com nossos vôs. E por vezes mesmo os tios dozem "D´esta nem eu sabia...", tal era a relação de cumplicidade que tive com eles.
Por coincidência, esta semana escrevi um texto sobre meu avô em meu blog.
Abraço
Postar um comentário