Tinha tudo para ser um momento de descontração antes da tempestade.
No sábado passado, e no que seria o último sábado antes de serem enviados para lutar no Afeganistão, um grupo de soldados britânicos aquartelados em uma base localizada em Massereene, na Irlanda do Norte resolveu que, mesmo sem poder sair da base, era hora de relaxar. Que tal pedir uma pizzas? A ideia era tão boa que alguns funcionários civis da base aderiram. Passaram a mão no telefone e ligaram para Domino's Pizza mais próxima.
Quando o carro da entrega chegou, um grupo de soldados e funcionários foi até o portão da base para pegar a encomenda. Nesse momento, um número não identificado de atiradores abriu fogo contra o grupo, usando armas automáticas.
Mais de 60 tiros depois, dois jovens soldados estavam mortos, e outras quatro pessoas feridas, incluindo dois empregados da rede de pizzarias. Foi o primeiro ataque mortal contra soldados britânicos na Irlanda do Norte em 12 anos.
De uma hora para a outra, os fantasmas que assombraram a província britânica durante décadas, e que estavam aos poucos sendo sepultados desde o o Acordo da Sexta-Feira Santa de 1998, e principalmente desde que os principais partidos protestantes e católicos formaram um governo de união em 2007, parecem tentar fazer o relógio andar para trás.
O atentado foi assumido por um grupo extremista republicano (e teoricamente católico) chamado Real IRA (RIRA). Ele se formou em 1997 ao redor de Michael McKevitt, que então era um dos líderes do Provisional IRA (PIRA), o principal grupo armado dos nacionalistas católicos (é o grupo que comumente conhecemos como IRA). Ele rompeu com a organização quando os principais líderes deram apoio para que ser braço político, o Sinn Fein, iniciasse as negociações de paz que, no ano seguinte, desaguariam no acordo que alterou as estruturas de governo e possibilitou o fim da luta e a deposição de armas pelos grupos militantes dos dois lados. Logo após sua criação, o RIRA tornou-se rapidamente o grupo dissidente mais importante, sobrepujando o Continuity IRA (CIRA), formado 10 anos antes. Seu ataque mais famoso (e sangrento) foi em agosto de 1998, na cidade de Omagh, deixando 29 mortos e mais de duzentos feridos.
Ontem, segunda-feira, um policial foi baleado na cidade de Craigavon, e veio a falecer. O ataque foi assumido pelo CIRA.
Este escriba foi um dos que cresceu ouvindo e lendo notícias sobre o conflito na Irlanda do Norte. Do final dos anos 60 até o acordo de 1998, muito sangue correu, e o povo da província, independente de credo religioso ou político, pagou um preço alto. No total, foram mais de 3500 mortos (mais de 1900 eram civis) e incontáveis feridos e mutilados.
Sempre simpatizei com os republicanos, e confesso que fiquei bastante satisfeito quando seus principais líderes resolveram negociar. Entre idas e vindas, os últimos 12 anos foram de avanços para a paz. Nem sempre na velocidade e na amplitude que muito desejariam, mas foram avanços. O atual estágio, onde temos um governo chefia por um unionista (protestante) moderado, que tem como seu segundo-em-comando um republicano (católico), ex-líder do IRA, é uma prova que a mesa de negociações é quase sempre mais efetiva do que o apelo às armas. Algo que, por exemplo, o grupo basco ETA e o governo espanhol ainda não conseguiram entender. Oriente Médio, bem, aí é que fica difícil de romper o ciclo de violência.
É hora de torcer para que os moderados não deixem o barco perder o rumo, e que medidas sejam tomadas para que os radicais armados sejam isolados e contidos. Firmar uma Irlanda do Norte totalmente sem violência talvez seja trabalho para mais de uma geração, quando todos os envolvidos e atingidos pelos anos negros tenham deixado de ter influência.
Quando o carro da entrega chegou, um grupo de soldados e funcionários foi até o portão da base para pegar a encomenda. Nesse momento, um número não identificado de atiradores abriu fogo contra o grupo, usando armas automáticas.
Mais de 60 tiros depois, dois jovens soldados estavam mortos, e outras quatro pessoas feridas, incluindo dois empregados da rede de pizzarias. Foi o primeiro ataque mortal contra soldados britânicos na Irlanda do Norte em 12 anos.
De uma hora para a outra, os fantasmas que assombraram a província britânica durante décadas, e que estavam aos poucos sendo sepultados desde o o Acordo da Sexta-Feira Santa de 1998, e principalmente desde que os principais partidos protestantes e católicos formaram um governo de união em 2007, parecem tentar fazer o relógio andar para trás.
O atentado foi assumido por um grupo extremista republicano (e teoricamente católico) chamado Real IRA (RIRA). Ele se formou em 1997 ao redor de Michael McKevitt, que então era um dos líderes do Provisional IRA (PIRA), o principal grupo armado dos nacionalistas católicos (é o grupo que comumente conhecemos como IRA). Ele rompeu com a organização quando os principais líderes deram apoio para que ser braço político, o Sinn Fein, iniciasse as negociações de paz que, no ano seguinte, desaguariam no acordo que alterou as estruturas de governo e possibilitou o fim da luta e a deposição de armas pelos grupos militantes dos dois lados. Logo após sua criação, o RIRA tornou-se rapidamente o grupo dissidente mais importante, sobrepujando o Continuity IRA (CIRA), formado 10 anos antes. Seu ataque mais famoso (e sangrento) foi em agosto de 1998, na cidade de Omagh, deixando 29 mortos e mais de duzentos feridos.
Ontem, segunda-feira, um policial foi baleado na cidade de Craigavon, e veio a falecer. O ataque foi assumido pelo CIRA.
Este escriba foi um dos que cresceu ouvindo e lendo notícias sobre o conflito na Irlanda do Norte. Do final dos anos 60 até o acordo de 1998, muito sangue correu, e o povo da província, independente de credo religioso ou político, pagou um preço alto. No total, foram mais de 3500 mortos (mais de 1900 eram civis) e incontáveis feridos e mutilados.
Sempre simpatizei com os republicanos, e confesso que fiquei bastante satisfeito quando seus principais líderes resolveram negociar. Entre idas e vindas, os últimos 12 anos foram de avanços para a paz. Nem sempre na velocidade e na amplitude que muito desejariam, mas foram avanços. O atual estágio, onde temos um governo chefia por um unionista (protestante) moderado, que tem como seu segundo-em-comando um republicano (católico), ex-líder do IRA, é uma prova que a mesa de negociações é quase sempre mais efetiva do que o apelo às armas. Algo que, por exemplo, o grupo basco ETA e o governo espanhol ainda não conseguiram entender. Oriente Médio, bem, aí é que fica difícil de romper o ciclo de violência.
É hora de torcer para que os moderados não deixem o barco perder o rumo, e que medidas sejam tomadas para que os radicais armados sejam isolados e contidos. Firmar uma Irlanda do Norte totalmente sem violência talvez seja trabalho para mais de uma geração, quando todos os envolvidos e atingidos pelos anos negros tenham deixado de ter influência.
3 comentários:
Excelente post, Luiz. A contextualização histórica ajuda a entender melhor o atentado. Agora é torcer pra que seja apenas um fato isolado, e não ocorra um efeito-dominó como teme nossa querida Gwyn.
Ótimo apanhado, Luiz.
Como vc, tb cresci ouvindo histórias do conflito, que mais tarde perderam o posto para as do País Basco — por ter conhecido uma família basca da melhor qualidade e com histórias bem bacanas pra contar.
P.S. Citei vc num post meu, viu? Aquele em que dou meus pitacos sobre o caso da menina estuprada.
Ricardo,
A luta dos bascos começou a chamar minha atenção mais fortemente quando a ditadura franquista condenou alguns militantes à morte no garrote vil.
Me arrepio só de lembrar...
Após longa batalha jurídica (e protestos internacionais), eles foram "apenas" fuzilados.
E meu moleque é fã de tudo relacionado ao País Basco.
E identifiquei a citação...
Abraços.
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