13 de maio de 2009

O Rio e as Olimpíadas de 2016, Fortaleza e a Copa de 2014

Muito se tem falado sobre a candidatura do Rio de Janeiro para sediar os jogos Olímpicos de 2016.

Aqui dentro do Brasil a discussão está polarizada entre os que apoiam a candidatura (basicamente os governos estadual e municipal do Rio, o Comitê Olímpico Brasileiro, a Rede Globo, o empresariado ligado ao turismo e a construção civil e, em uma escala levemente menor, o governo federal), e aqueles que são críticos ao projeto (parte da imprensa e instituições da sociedade civil ligadas ao esporte e a transparência nos gastos públicos).

Pessoalmente sou contra o projeto, especialmente por ele ser tocado por um órgão (o COB) que já deu demonstrações inequívocas de incapacidade para gerenciar recursos e formatar planos que resultem em efetivos avanços para o esporte nacional e para o conjunto da sociedade. Isso se agrava a partir do momento em que se juntam a ele grupos políticos e econômicos cujo histórico é nada recomendável. Foi essa reunião de personagens que nos deu o Pan de 2007, com orçamento largamente ultrapassado, obras questionáveis, poucos ganhos na infra-estrutura da cidade (especialmente comparado ao que foi prometido) e praças esportivas que, após os jogos, estão variando entre a quase total falta de utilização e o desvio de finalidade.

Durante muito tempo, eu estava sem saber verdadeiramente quais as reais chances da candidatura do Rio. Tudo que eu via era o oba-oba dos organizadores, mas quase nada mais isento e independente. E quase nada sabia sobre a situação das candidaturas concorrentes, de Chicago, Tóquio e Madri.

Dando uma espiada no blog FiveThirtyEight, que analisa a política americana usando sempre ferramentas matemáticas e estatísticas (já disse aqui uma vez que esse é uma das minhas manias...), dei de cara com um post intitulado Why Obama Wants the Olympics, que falava das razões para que o atual governo americano tenha desencadeado um grande lobby em favor da candidatura de Chicago.

No mesmo post, vinha a afirmação de que as quatro candidaturas estariam muito próximas nos critérios técnicos, e citava o site GameBids, especializados no assunto, como fonte. Esse site possui um índice que indica a possibilidade de sucesso de uma candidatura. Na última atualização do índice, os números foram:

Tóquio - 61,41
Rio - 59,95
Madri - 58,73
Chicago - 58,37

Ou seja, páreo duríssimo. E junto com os números vinham algumas considerações sobre cada candidatura.

Por exemplo, Chicago sofre com os astronômicos valores que seriam cobrados dos patrocinadores (principalmente numa época de crise como a atual) e também por ser a única cidade onde não há garantias governamentais totais. Tóquio fez um plano compacto e muito objetivo, e tem usado bem o crescente apoio popular e o potencial econômico da região, mas pode ser prejudicada pelo fato de o Oriente ter sediado uma Olimpíada muito recentemente (Beijing). Quanto a Madri, tem um plano muito bem elaborado, fundamentalmente baseado no que quase foi vitorioso na disputa pelos jogos de 2012, somado a excelentes garantias financeiras e boas instalações já existentes.

E quanto ao Rio de Janeiro? Sua principal força, segundo os analistas, é o fato de a América do Sul nunca haver sediado os Jogos. Um pedido para que o Comitê Olímpico Internacional dê uma chance ao continente vem revestido de grande simpatia.

Mas o mais interessante é um fato que é normalmente utilizado pelos adversários internos da candidatura, mas que pode contar a favor do Rio: o valor a ser gasto. Para alguns membros do COI, o valor previsto para os investimentos (28,8 bilhões de reais, equivalentes a 13,9 bilhões de dólares) , superior em alguns bilhões de dólares ao das outras cidades candidatas, pode parecer como algo prudente e sensato, e assim diminuir o valor de eventuais estouros orçamentários, como ocorrido em Atenas, Beijing e Londres.

Volto a dizer: sou pessoalmente contra. Temos, enquanto país, outras prioridades para tão elevados valores. Da mesma forma, considero que a Copa de 2014 será um espetáculo de queima de dinheiro público, com boa parte dele indo para os bolsos de sempre.


Aliás, quanto à Copa, tenho um desabafo mais pessoal.

Esta semana saiu o valor previsto de gastos a serem realizados pelo governo do Estado do Ceará e pela Prefeitura de Fortaleza caso a cidade esteja entre as escolhidas para sediar jogos da Copa.

Em uma cidade cheia de problemas graves, e encravada em um estado com alguns dos piores indicadores sociais do país, pensa-se em gastar 9,2 bilhões de reais. E que podem se transformar em um valor ainda maior...

Ou seja, um terço da bagatela prevista pelo Rio 2016 para, com sorte, sediar 3 partidas do evento.

Alguém aí acha isso sensato?

Um comentário:

Luiz disse...

Amigos que comentaram neste post (lembro do El Torero, Darw e Anrafel, podem ter mais...):

Fiz m... e perdi este post. Deu para recuperar o texto mas não os comentários. Desculpem aí.

Se alguém quiser repetir o que tinha dito, sinta-se a vontade.